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quinta-feira, 8 de maio de 2008

Invernal



“Nem pense em ser romântico mais uma vez”. A idade já passou, estamos em uma época de distúrbios sentimentais no mundo, tecnologia avança, o que temos por dentro vai ficando para trás, incompreendido.
''Não que eu mesma me inclua nisso tudo'', mas tentar reaver isso tudo nas pessoas é uma parte boa para se explorar. É meio irresistível até.

O pior disso tudo é você mesmo não saber sobre o seu interior, não expor, ninguém sabe o que sente de fato, e ninguém um dia lerá seus olhos com a precisão do espelho - que, como você, também não se lê. 

Quem me conheceu na tenra infância, conhece uma parte que tentava ser compreendida, tentava mostrar alguma coisa, e era carinhosa, bastante; então fica até mais fácil, como um contraponto para hoje em dia, “que não é nada, que não penso nada; que não quero nada”. 

Em matéria de apaixonar-se, realmente não desejo nada, mas esse clima começa a ficar agudo para as pessoas no outono-inverno. Se é pelos filmes no frio (cobertor, chocolate), pela impossibilidade de sair em plena chuva, não sei, talvez os doces que engordam também tem a ver. 

A questão é que duas pessoas diferentes, com vidas opostas ou até parecidas (mas segredos individuais) namoram nessas épocas. Um ou outro traem, continuam, são hipócritas, pensam em oportunidades com outras pessoas, acham normal e coisas assim. Presenciar isso é meio nojento, mas ao menos reafirma que não podemos cair em ilusões imbecis, mesmo que eu sempre insista em dizer: “depende de cada pessoa”, hoje em dia, todas elas estão borbulhando de incertezas que fazem a insegurança (já que todos somos inseguros) amassar seus projetos românticos –
Mas...
e o que é o romance além de teatro? 

Nunca deixarei de pensar no romance como um teatro, no sexo casual como um teatro, em relacionamentos simplórios cujos segredos mantêm-se guardados, nada se divide e ambos têm intenções que, para mim, já destroem uma relação. Portanto, não existe relação que não seja a dita perversa, dividindo pessoas, conflitos e etc, como na em uma série da GNT, casais “modernos”, do qual os protagonistas são casais bem velhos que transam com outros casais ou com outro individuo, mas tem uma sinceridade e um “amor” que não “acaba”, afinal, a liberdade existe dentro da relação – e como existe – porém em comum acordo de sexo e bens. É justo.

"O que é amor de verdade?" - É o clássico, por sendo clássico poderia citar tantos poemas ou até Nelson que mesmo fazendo todas aquelas putarias só se referia a como as pessoas veem o amor, e não como ele acredita: " sendo eterno". Mas vamos lá, citar pessoas é muito flou.

Amor de verdade não acaba nunca, é uma preocupação genuína, uma intimidade com outra personalidade, algo de saber seus limites e suas partículas mais sensíveis, conversar durante horas sem preocupar-se com tempo e o tempo passa rápido mesmo, é assustador, te deixa nervoso de verdade, por isso essa linha tênue com o ódio – como podes querer tanto alguém, e mais do que isso, a querer bem? – é meio angustiante pra quem vê, mas pra quem sente é algo natural e quando posto em distância, é algo no começo desesperador, mas a maturidade nos faz crer em outras coisas sobre caminho e vida. Quem ama não faz exatamente as coisas mais lindas ou ditas mais lindas ou certas, faz coisas menos estúpidas que os apaixonados, é claro, mas as vezes é difícil lidar com algo tão grandioso, algo que nos completa mesmo longe, algo que nos conquistou e não sabemos nem por onde, por onde tal pessoa pegou meus pesadelos e sonhos? É desagradável, vai. Mas quando conversamos com ela, é sempre tão agradável, não tem fim, você gosta de escutar a alma de quem fala, e não os acontecimentos exteriores, você gosta de falar com a voz da sua alma, e não sobre os acontecimentos exteriores, e fala dela se referindo a tudo, já que amor é de alma para alma, diria, portanto mais que intenso, a intensidade dos apaixonados é ilusória – você “ama” momentos, você se aproxima do que quer parecer da perfeição que poderia gerar ou ver em outros casos, apenas ver em alguém – e essa tal perfeição é tão estúpida, que eu não entendo por que da paixão. 

Entenderia a paixão de 2 dias. O respeito, mas quem tem certa consciência, recobra com a mesma força que volta a vida. Pessoalmente digo isso, pois é emocionante conhecer traços e a vida de mais alguém, é emocionante escuta-las sorrir, vê-las acordar, lidar com seus medos estúpidos, suas alegrias estúpidas, e é mais emocionante ainda fazer parte disso, ajudando, confraternizando sentimentos – dividindo-os sem por que nem para quê – apenas para sentir a alma do mundo, dos acontecimentos, do acaso. Fora isso, não conseguiria deglutir seu sono, sua estupidez, seu sorriso egoísta, e nada disso mais dia nenhum, pois existe a consciência, e ela, como sua alma, não ficaria tão confortável com a vida de um outro estúpido se remexendo com a sua, se intrometendo no cotidiano mesmo que ele não seja lá tão rotineiro, mas sua alma é uma rotina de valores e sendo assim não existe forma de continuar achando belo o feio, a não ser naqueles um dia e meio dos quais decifrou sentimentos, conquistou pensamentos, e foi paixão, realmente paixão. E é claro, paixão acaba e quando isso acontece vira arrependimento – e para não virar esse chato arrependimento o bom é não seguir, seguir paixão já não entendendo suas raízes ou seus frutos (pois não existem) é o que os casais corriqueiros fazem e por isso não dividem nada, não vivem em si mais que os momentos arrastados e com carência, mais tempo arrastados. Então a paixão dura dois dias.
O amor dura para sempre, como podes conhecer a alma de alguém – e sentir conforto e vontade de confortá-la perante um mundo fútil – e isto acabar? Só acaba se não for verdadeiro, pois a alma, o âmago, não muda, por mais que as experiências aconteçam e os sofrimentos a iludam.
E quem não acredita em alma, tem alma também, mas caso realmente não acredita, é daquelas que amam um determinado ex e vivem procurando esquece-lo toda a vida, com paixões, com terapias, com casualidades, com trabalho ou talvez, nem encontrar tenha encontrado aquele amor, aquele conforto, mas há de acontecer, é inevitável.
E é clássico: "Pode o amor virar amor de amigo". Foi sempre discutido isso, já ouvi falar sobre isso e já falei sobre isso. Mas descrever mais profundamente é diferente.
Acredito que sim, mas internamente não será, se virar será sempre aquele amor contido. A questão é: depois de tanto tempo, depois de sofrimentos ou intempéries, já que o ser humano criado em tal sociedade não poderia engolir seu amor vivenciando uma paixão, uma possível outra situação, mesmo que esta exista longe do tempo em que ambos eram eles e agora apenas são ele e ele, e tal faz isso e outro faz aquilo – vivem suas vidas – iludem-se, morrem. Mas quem é capaz de entender que mesmo com a distancia, mesmo com os casos enfadonhos, os casos ilusórios, os casos do contratempo o outro só sente com tua própria alma, e a sua é da mesma forma, mesmo contracenando com mediocridades emocionais da vida, irão seguir pelo caminho que os conforta. E o depois?
É aí que está: quem ama não se preocupa muito com isso, não existe um depois assustador.
A pior parte foi conhecer-se, a pior parte foi entender, foi rebuscar seus sentidos e se deparar com outros, portanto, o que resta é uma família, a verdadeira família.

íris

O dia nasceu mais uma vez quando abri meus olhos, um sono delicioso que me deixa em êxtase me levantou da cama.
Pensamentos consagram idéias a todo o momento, uma paz embriagada de sons, uma praia distante em meio a uma noite cheia de nuvens, cheia de palavras escritas em mais um caderno todo branco como o céu de todas as manhãs, como alguém disse que é cada dia essa página em branco, que me fantasia os atos, imaginando conjecturas, imaginando ondas nos pés e olhar no horizonte: mais uma lembrança concertada por um dia branco. 

O conforto do piano se espalhando pelos aposentos, da névoa indo embora com uns sonetos em cima da mesa, na altura das minhas mãos. 

Tudo se quebra com o som estridente da campainha da manhã, o que é agora, o que pode ser que tire a paz de inventar sonhos essa hora do dia, logo fora de mim? 

Abro as janelas que só haviam permanecidas fechadas por que o contato com o barulho externo dos carros viajando no tráfego mesmo que escasso não me estimula a viver na cidade, nem as buzinas do acaso, muito menos o barulho do ônibus fazendo destinos, infelizmente, não é o que me estimula a procurar o meu hoje. 

Mas abro, abro as janelas para ver o clarão e espalhar os sons do sossego ao resto do dia que ficou para metade do mundo, abro as janelas para encontrar alguns sonhos perdidos no formato das nuvens e nada poderia me interessar mais do que elas e as pétalas que caíram nesse outono. 

Não vi olhos recheados de dramas, nem o tráfego das pessoas ensinadas, muito menos o pesadelo dos meus sonhos: Apenas vi meu destino em asas cada vez mais ágeis, cada vez mais leves olhos de liberdade, uma liberdade que nunca vi igual: mas por que presa a mim, nessa manhã sem sol? 

Presa aos meus olhos já enormes, uma íris em comum como destinos em harmonia, asas pesarosas minhas e aquelas, aquelas tão nítidas e lindas, a verdadeira beleza infinita: natural, despida e cheia de si, cheia de vida, correndo por suas asas vívidas, com cores sentidas apenas por mim naquele momento – mais por ninguém – apreciando um espetáculo do universo, que me fez desaguar todos meus medos presos em raízes podres. 

Não sabia o que dizer, minha alma sorriu sem desapego algum, um sorriso diferente de todos os outros que me cativa o externo: um sorriso verdadeiro.
E lá, emitindo sons tão mágicos como meus sonhos infantis, uma pintura no ar que parecia o fim de todas as historias que prometiam o recomeço.

Permanecera tanto tempo apenas junto aos meus olhos, como se quisesse passar uma mensagem, como se passasse aos poucos todas elas, e tão rápido como as asas de um beija-flor, tão suaves como tudo ao seu redor envolvendo emissões, não pude balbuciar, e minha alma voou junto a ele, como final feliz.