O dia nasceu mais uma vez quando abri meus olhos, um sono delicioso que me deixa em êxtase me levantou da cama.
Pensamentos consagram idéias a todo o momento, uma paz embriagada de sons, uma praia distante em meio a uma noite cheia de nuvens, cheia de palavras escritas em mais um caderno todo branco como o céu de todas as manhãs, como alguém disse que é cada dia essa página em branco, que me fantasia os atos, imaginando conjecturas, imaginando ondas nos pés e olhar no horizonte: mais uma lembrança concertada por um dia branco.
O conforto do piano se espalhando pelos aposentos, da névoa indo embora com uns sonetos em cima da mesa, na altura das minhas mãos.
Tudo se quebra com o som estridente da campainha da manhã, o que é agora, o que pode ser que tire a paz de inventar sonhos essa hora do dia, logo fora de mim?
Abro as janelas que só haviam permanecidas fechadas por que o contato com o barulho externo dos carros viajando no tráfego mesmo que escasso não me estimula a viver na cidade, nem as buzinas do acaso, muito menos o barulho do ônibus fazendo destinos, infelizmente, não é o que me estimula a procurar o meu hoje.
Mas abro, abro as janelas para ver o clarão e espalhar os sons do sossego ao resto do dia que ficou para metade do mundo, abro as janelas para encontrar alguns sonhos perdidos no formato das nuvens e nada poderia me interessar mais do que elas e as pétalas que caíram nesse outono.
Não vi olhos recheados de dramas, nem o tráfego das pessoas ensinadas, muito menos o pesadelo dos meus sonhos: Apenas vi meu destino em asas cada vez mais ágeis, cada vez mais leves olhos de liberdade, uma liberdade que nunca vi igual: mas por que presa a mim, nessa manhã sem sol?
Presa aos meus olhos já enormes, uma íris em comum como destinos em harmonia, asas pesarosas minhas e aquelas, aquelas tão nítidas e lindas, a verdadeira beleza infinita: natural, despida e cheia de si, cheia de vida, correndo por suas asas vívidas, com cores sentidas apenas por mim naquele momento – mais por ninguém – apreciando um espetáculo do universo, que me fez desaguar todos meus medos presos em raízes podres.
Não sabia o que dizer, minha alma sorriu sem desapego algum, um sorriso diferente de todos os outros que me cativa o externo: um sorriso verdadeiro.
E lá, emitindo sons tão mágicos como meus sonhos infantis, uma pintura no ar que parecia o fim de todas as historias que prometiam o recomeço.
Permanecera tanto tempo apenas junto aos meus olhos, como se quisesse passar uma mensagem, como se passasse aos poucos todas elas, e tão rápido como as asas de um beija-flor, tão suaves como tudo ao seu redor envolvendo emissões, não pude balbuciar, e minha alma voou junto a ele, como final feliz.