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domingo, 22 de janeiro de 2012

Ilusão


Pornografia, a ilusão do prazer

A partir de making of de filmes pornográficos, filme francês reflete sobre a representação idealizada do sexo e do prazer.

Por Bruno Carmelo, do Discurso-Imagem.
Il n’y a pas de rapport sexuel (“Não há relação sexual”) nasceu do encontro improvável entre Raphaël Siboni, famoso artista plástico, e HPG, diretor e ator de filmes pornográficos. Por coincidência, o trabalho de ambos é financiado pela mesma produtora, a marginal Capricci filmes, que propôs a Siboni pegar milhares de horas de making of do diretor pornô e fazer um documentário a respeito. Cada um impôs suas condições: Siboni exigiu que HPG não tivesse influência nenhuma na escolha das imagens, enquanto este último impôs que não se falasse na remuneração dos atores. Acordo fechado.
O título, o irônico “não há relação sexual”, faz referência ao psicanalista Jacques Lacan, que sugeria que mesmo no ato sexual a dois, o verdadeiro prazer não está na outra pessoa, e sim nos fantasmas projetados nela. Assim, o prazer seria mental mais do que corporal, e principalmente individual. Esta escolha dá uma boa noção do conteúdo bastante acadêmico e teórico que se pode ver, contra todas as expectativas, nesta colagem de cenas de coito, esperma, pênis, vaginas, penetrações duplas, sodomia, sexo grupal e todos os tipos de fetiches.
O início representa de maneira excepcional o discurso do diretor: uma bela atriz pornô espera sentada numa cadeira, enquanto HPG prepara a iluminação e a câmera. Ao seu lado, um homem se masturba para manter a ereção. Ela boceja de um lado, cutuca algumas pequenas feridas da pele, enquanto seu parceiro aumenta o ritmo frenético da masturbação. HPG grita: “Ação!”. Imediatamente, ela monta sobre seu parceiro, faz caras e bocas, geme, insinua todos os tipos de posa. A cena termina, ela volta para o seu canto, novamente entediada. Ele continua a se masturbar para a cena seguinte.
Este filme não é um ataque moralista sobre a “objetificação dos corpos”, sobre a exploração das mulheres nem nada do gênero. Ele tampouco é um tratado social, do tipo que observa a integração da profissão pornográfica com a vida cotidiana dos atores, com a família, amigos, salário, planos de carreira etc. Evitando a narração ou o desenvolvimento de uma história, a direção prefere colar cenas, uma ao lado da outra, sem grandes explicações, “como se faz nos vídeos da Internet de hoje em dia”, comenta Siboni.
Assim, o efeito produzido não é de crítica, nem de excitação – poucos filmes com tal quantidade de sexo explícito conseguiram ser tão pouco excitantes, aliás. Esta foi uma das razões pela qual Il n’y a pas de rapport sexuel foi classificado “apenas” um filme proibido para menores de 18 anos, e não um filme X, o que teria reservado sua projeção às salas de cinema pornográficas. E para a surpresa geral, a obra chegou aos cinemas independentes coroada de excelentes críticas.
De fato, Siboni efetua um mosaico um tanto triste, patético e mecânico da ilusão de prazer, da idealização do sexo, tanto heterossexual quanto gay. Os atores são vistos na espera entre as cenas, ensaiando frases ridículas como “Ai, como é gostoso o esperma dos desconhecidos!”, proferida por uma jovem cercada por três pênis em ereção. Raramente os atores se olham no rosto, de tão concentrados em suas performances individuais. A ausência voluntária de contexto, o confronto constante entre os personagens fetichizados e as pessoas comuns que os encarnam gera um efeito cômico, despretensioso, e uma certa forma de distanciamento em relação ao material – o que é contrário ao próprio princípio de imersão da imagem pornográfica.
Curiosamente, este discurso sobre a ilusão do sexo faz referência à ilusão da própria imagem. Enquanto os making of tradicionais, publicitários, revelam a parte técnica da realização mas mantém o fetiche do estrelato, Il n’y a pas de rapport sexuel ignora o aspecto técnico para humanizar estas figuras dotadas de uma imagem sobre-humana, com pênis imensos, seios superdimensionados e orgasmos múltiplos. O filme escolhe as imagens que as mostram apenas como pessoas comuns, sem prazer particular pelo que fazem, sendo penetradas com o mesmo profissionalismo indiferente de um operário padrão que produz a mesma peça dez vezes por dia. A pornografia é acima de tudo um trabalho, e as aulas de “como simular uma felação” dadas pelo diretor aos atores iniciantes no “softporn” (filmes sem penetração nem imagem de órgãos genitais) é um ótimo exemplo disso.
A cereja do bolo é o fato de Siboni ter conseguido aproveitar, e muito bem, a estética involuntária deste making of. A câmera está colocada num tripé, numa altura fixa, e ela permanece nesta posição por muitas horas, de modo que tanto o diretor quanto os atores se esquecem da sua existência. Esse enquadramento aleatório produz momentos interessantes do uso do extra-quadro, além de algumas composições que dificilmente teriam sido escolhidas por HPG ou o próprio Siboni (uma atriz, de pernas abertas sobre o sofá, geme enquanto sua vagina e seu ânus ocupam praticamente todo o enquadramento, durante longos minutos). Os corpos são reduzidos a um material plástico, órgãos genitais são vistos como ferramentas de trabalho e os gemidos de prazer parecem tão artificiais quanto os sorrisos em propagandas de margarina. Il n’y a pas de rapport sexuel é um excelente estudo sobre a ilusão e o fetiche dos corpos, do sexo, da imagem e do cinema.
——–
Il n’y a pas de rapport sexuel (2011)
Filme francês dirigido por Raphaël Siboni.
Com HPG, William Lebris, Phil Hollyday, Cindy Dollar, Stacey Stone, Dolce Elektra, Sexy Black, Nymphy, Superpussy.

domingo, 10 de julho de 2011

A viagem de Chihiro



ITSUMO NANDO DEMO 
(Letra de Wakako Kaku e interpretação de Youmi Kimura)

Yondeiru mune no dokoka oku de
Itsumo kokoro odoru yume o mitai.
Kanashimi wa kazoe kirenai keredo
Sono mukou de kitto anata ni aeru.
Kurikaesu ayamachi no sonotabi hito wa
Tada aoi sora no aosa o shiru.
Hateshinaku michi wa tsuzuite mieru keredo
Kono ryoute wa hikari o idakeru.

Sayonara no toki mo shizukana mune
Zero ni naru karada ga mimi o sumaseru.
Ikiteiru fushigi shindeyuku fushigi
Hana mo kaze mo machi mo minna onaji.
La la la la la la...

Yondeiru mune no dokoka oku de
Itsumo nandodemo yume o egakou.
Kanashimi no kazu o itsukusuyori
Onaji kuchibiru de sotto utaou.
Tojiteyuku omoi de mo sono naka ni
Itsumo wasuretakunai sasayaki o kiku.
Konagona ni kudakareta ka ga mi no ue ni mo
Atarashii keshiki ga utsusareru.

Hajimari no asa no shizukana mado
Zero ni naru karada mitasareteyuke.
Umi no kanatani wa mou sagasanai
Kagayakumono wa itsumo koko ni,
Watashi no naka ni mitsukerareta kara.
La la la la la la...

___


SEMPRE COMIGO 
Em algum lugar, uma voz chama do fundo do meu coração 
Que eu possa sempre sonhar os sonhos que tocam meu coração 
Tantas lágrimas de tristeza, incontáveis lágrimas rolaram 
Mas sei que, do outro lado, encontrarei você 
Toda vez que caímos no chão, olhamos para o céu lá no alto 
E acordamos para a sua imensidão azul, como se fosse a primeira vez 
Como o caminho é longo e solitário e não enxergamos o fim 
Posso abraçar a luz com meus dois braços 

Quando digo adeus, meu coração para, com ternura eu sinto 
Que meu corpo silencioso passa a ouvir o que é real 
O milagre da vida, o milagre da morte 
O vento, a cidade, as flores, todos nós dançamos em união 
La la la la la la... 

Em algum lugar, uma voz chama, do fundo do meu coração 
Continue sonhando seus sonhos, nunca os deixe morrer 
Por que falar de sua melancolia ou dos tristes pesares da vida? 
Deixe seus lábios cantarem uma linda canção para você 
Não esqueceremos a voz sussurrante 
Em cada lembrança ela ficará para sempre, para guiar você 
Quando um espelho se quebra, estilhaços se espalham pelo chão 
Lampejos de uma vida nova refletem-se por toda parte 
Janela de um recomeço, silêncio, nova luz da aurora 

Deixe que meu corpo vazio e silente seja preenchido e nasça outra vez, 
Não é preciso procurar lá fora nem velejar através do mar 
Porque brilha aqui dentro de mim, está bem aqui dentro de mim 
Encontrei uma luz que está sempre comigo 
La la la la la la... 

terça-feira, 5 de julho de 2011

Sobre os dias eternos

É estranho viver dias eternos.
Nos dias eternos a ressaca vira energético, as comidas são digeridas perfeitamente .
Somos capazes de metáforas não tão clichês
De abrigar o sentimento na reciclagem e fazer uma realidade virar decisão
sem qualquer movimento certo

Dá pra sentir que nossas risadas serão escutadas ainda durante semanas e lembradas durante anos e anos.

Nos dias eternos pessoas queridas se reúnem e coisas não tão queridas, mesmo nao sendo transmutadas,
emergem em alguma bebida, se distraindo sem grandes patologias.
Nos dias eternos nada é clínico, definitivamente.

Nesses dias o amanhã ainda vai demorar demais, e fica difícil demais pensarmos nele
nesses dias as caminhadas são ao contrário e quilômetros são alguns passos a mais.
Aquele frio fica engraçado e aquece como o verão costuma pretender aquecer (mas no final apenas queima).

Céus, nos dias eternos nem mesmo consigo descrever de forma impessoal pra ficar poético.
Nesses dias nada é indireto mais,
o irônico é lúdico demais pra soar agressivo ou subversivo
acabo dizendo que colocamos fantoches na cabeça ou no braço do violão e
assim evoluímos ganhando golpes que tiram 75 % do HP do oponente.

Nos dias eternos o aleatório é sinestésico,
todas as impressões culturais ficam borradas e prestamos
atenção na falta de atenção do mundo,
disfarçada de uma porrada de expressões engraçadas.

É importante dizer que os dias eternos são todos musicados, não
há uma frase que não gere uma nota musical,
sem alusão a um subjetivo tão encantador, firme, mais real que todas
as informações denotativas que insistem em nos amarrar por aqui

Os dias eternos obviamente não tem final,
vivemos um abstrato que o limite do tempo não poderia entender
e até a partida é também uma viagem,

(...)
Mais ou menos assim são os dias eternos;

E o melhor é que o futuro já vê o passado,
e mesmo certamente nostálgico, não damos adeus pra ninguém.


Salvador Dali

Salvador Dali – “A persistência da memória”



quinta-feira, 19 de maio de 2011

Cheiro de jupiter na casa 3 parte 1

561. Aleatório mundo 8


O que é diferente depois de milênios dentro de mim?
Algumas vezes desperto e as coisas começam a ficar calmas
novamente
Eu confundo a voz de Johnny Rzeznik com a de Tim McIlrath, isso tem motivo,
isso faz sentido com certeza

Algum tempo descubro que o número do onibus onde
estou muda enquanto não ando nele

Escuto Coldplay pela voz de uma mulher de óculos
escuros dentro de um shopping a noite
É tão lento e tantas pessoas suspensas olham despreocupadas
Ninguém ali de cima bate palmas

Não sei como meus pés ficavam antes,
agora os descubro no chão, procurando a melhor
posição pra ficar parada

As luzes se acenderam e se apagaram enquanto
eu não me preocupava da onde vinha,
não sentia mais qualquer outro cheiro e chocolate de uma hora
pra outra ficou tão chato

De uma hora pra outra todos os impulsos se tornaram
tão fracos

Eu não poderia me jogar mais,
só quero escalar agora, não posso mais voltar,
as pessoas diminuem

Parecia tão alto, agora eu percebo que existe uma
ilusão baseada só no pragmatismo e tão ruim
quanto as que poderiam me fazer feliz durante alguns minutos

Ninguém vai desistir quando for embora

Sonhei com redemoinhos estragados sendo leiloados
estou novamente andando em frente ao degrau,
eu poderia subir, mas não faz sentido agora disputar
uma vaga lá em cima 



O destino passando dentro de canos e mais canos
Corto caminho pra outra frase escutando um barulho característico
Mas ainda é minha vez, 





Azay-le-Rideau, Indre-et-Loire, França

terça-feira, 17 de maio de 2011

Robôs que não são

Quando estamos bem com uma idéia e determinados em realizá-la, nada é tão difícil que não podemos sobrepor.
Existe a autocrítica e a pressão social, a pressão familiar e a sentimental; estamos sendo pressionados todo o tempo, mas também estamos pressionando as pessoas todo o tempo também, até involuntariamente. A verdade é que não precisamos provar nada pra ninguém, mas sempre tentamos provar, assim como achamos sempre que as pessoas precisam provar que são assim, assim, assim.
Podíamos parar de pensar tanto e falar mais, viver mais, ter menos medo de parecer tão infantil, tão estúpidos, tão folgados e simplesmente sermos humanos e entendermos com compaixão os motivos e as carências dos outros... Mas só podemos fazer isso quando admitimos os nossos.
x²- Quando temos um vislumbre do que realmente queremos, não há nada nem ninguém que atrapalhe, principalmente quando só queremos que as pessoas sejam um pouco mais humanas que são e menos metidas a robôs que não são.
Então não levamos tão a sério nossos pequenos conflitos internos a ponto de atrapalhar nosso convívio com quem também tem conflitos nesse mundo de solidões colecionadas que deviam ser solidões unidas, numa individualidade saudável.

É fácil falar mesmo?

'Quem tira a foto sempre diz mais do que quem está sendo fotografado, com certeza - e é uma forma tão boa de unir um só pensamento, mesmo que seja com duas pessoas completamente diferentes. ' -

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Arnaldo Jabor_

'' Crônica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.''

obs_síndromes

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Flor de maio IV






em alegria ou surpresas, passavam-se igualmente todos os dias no castelo em que moravam duas princesas, Flor de Maio e Flor de Abril, que, apesar do nome, ainda não haviam florescido. Flor de Maio era quieta e Flor de Abril quase não falava. Se a primeira era melancólica, a segunda era tristonha. Se uma era solitária, a outra estava sempre sozinha. Eram irmãs, mas não se faziam companhia e, como o castelo era muito grande, nunca se cruzavam.
Assim, durante muito tempo, até que veio um inverno como nunca viera antes. Lagos e fontes gelaram completamente, calaram-se os pássaros e as torres do castelo vestiram-se de branco por longos meses e mais pareciam noivas das montanhas. A natureza emudeceu e as pessoas pouco falavam. Reinava um silêncio glacial. E foi assim que Flor de Maio e Flor de Abril encontraram-se na sala dos manuscritos.
Reinava também o silêncio, mas povoado de palavras magnificamente bordadas no papel, de iluminuras luminosas, de desenhos que podiam quase falar. E num pesado livro que contava sobre as plantas, Flor de Maio encontrou seu nome e sentiu-se flor. Mas Flor de Abril não encontrou nada e sentiu-se ainda mais só. Arrastando sua dor e tristeza, procurou seu nome no livro dos monstros, das bruxas, dos bichos e até dos mortos. Não se encontrou em nenhuma página e sua fria tristeza confundiu-se com o Inverno. Parecia que a princesa acompanhava o silêncio da estação.
Parecia que a estação entendia o silêncio da princesa. Meses de silêncio e a fome começou a se instalar. O trigo gemia sob a terra, querendo nascer, mas o Inverno, solidário com a princesa, não se ia embora. Não se sabe ao certo se foi por medo da fome ou por compaixão, mas Flor de Maio enfrentou o vento frio e foi ao jardim remexer na terra. E, debaixo de espessas camadas de neve, descobriu um arbusto em cujos galhos começava a despontar um broto, sugerindo um futuro de flor. Era o mês de abril.
Flor de Maio levou a irmã para fora e mostrou-lhe a descoberta: uma flor de abril. A triste princesa sentiu-se botão e sorriu.Naquele mesmo instante, um tímido sol novo descortinou a névoa e convidou a Primavera a voltar. A nova estação veria duas magníficas flores desabrocharem juntas nos jardins do castelo.

( fonte : Revista "MUNDO e MISSÃO", histórias medievais )



quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ervilha de laboratório


Se pararmos pra pensar um entusiasmo não deixa de ser uma ansiedade.

Qualquer comentário fica fora de todos os contextos e ao mesmo tempo se enquadra em qualquer um...
Falo da análise de qualquer coisa, permitindo o abstrato e o absurdo até. Pra entender melhor, é só olhar pra uma imagem, cada um vai ver de sua forma particular (até mesmo os que sabemos que falam por que outros falam, os chamados pseudo pseudos intelectuais).
A questão é que até mesmo os que avaliam de forma "lógica" procuram no objeto a ser analisado uma referência sutil pra garantir uma revelação.
A referência sutil é na verdade um lugar onde nossas próprias características pesam, até mesmo
por não pesarem. É como um ecossistema mental.

Ok, sempre existe um ponto de
partida.

O começo é pela empatia, por exemplo: se eu acabar percebendo em qualquer alvo
uma coincidência, estarei sem dúvida admitindo
uma ingenuidade que não me deixa ser crítica, nem
mesmo discernir o que de fato é bom.
Perai. Mas como assim bom?
Depende dos critérios.
[critério
s. m.
1. Faculdade de distinguir o verdadeiro do falso, o bom do mau.
2. Capacidade, autoridade para criticar.]

Sinceramente todos se identificam ou mapeiam inspirados em seus próprios meios... Ou seja, na verdade perceber uma coincidência não é ingenuidade e sim ser um idiota bem burro, daqueles que são carentes e não admitem que podem admitir suas lamentações psicológicas em cada análise que fazem, seja de qualquer coisa e principalmente pra qualquer um.
Cara, tudo rende demais e ainda há quem
tenha tédio (repare, justamente são os pseudo
psceudos intelectuais. No entanto considerá-los
extremamente burros é outra burrice, apenas são carentes e se ghandi deixar um dia serão proveitosos pra si mesmos e não só como ratos de laboratório.).
(18/11/09, postado no meu fotolog)

E olha que escroto: No gartic já desenharam algo parecido com uma ervilha,
aí eu arrisquei: "ervilha" e as pessoas ficaram: O.o, 'ervilha? NOSSA, ervilha não é
assim!". É incrível não saberem como é de fato uma ervilha, sabe, elas não nascem em latas daquele jeito, gente, elas são compridinhas e sua vagem também é usada.





"As ervilhas serviram a Johann Gregor Mendel para as experiências que o levaram à descoberta das leis da herança biológica, hoje conhecidas em todo o mundo como leis de Mendel." (wiki)

"Ervilha não é com H."
"Claro que é, ninguém fala ervila."
(Chaves)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Lapa PeB

Lugar sujo, poças de lama e tanta gente pra lá e pra cá.
Uma barraca parecida com aquelas que colocam brincos e cordoes etc
nas ruas cedo, fora transformada em um bar itinerante com garrafinhas pet
de várias cores fluorescentes diferentes, verde, rosa shock, laranja shock, amarelo-marca texto. Achei que as bebidas seriam servidas ali, mas não, era em um copo grande desses de plástico - de colocar guaraná e cantar parabéns com música da xuxa.
Pedi  uma caipirinha de morango que mais tarde parecia tripa, em um vermelho fígado tenebroso. Mas era alimento e bebida ao mesmo tempo, valia a pena.
Um rapaz de cabelo comprido chama o ''barmen'' da tal barraca de família. "E AÍ FAMÍLIA, ME VÊ UMA FODCA". Rio alto, ele olha pra mim risonho, comento que achei engraçado chamar de "família" e ele: "somos todos uma família, esse aqui é meu primo".
Eu disse que o barmen era meu irmão. Meu irmão nos ofereceu mais açúcar.

Dos becos molhados músicas diversas, um funk antigo e mulheres grandes
dançando com gays pequenos. Do meu lado cai um cara, empurrado por outro,
que mais parecia ter saído da possa de lama (e assim levava o outro em seu lugar).


Marchando, tudo estranho, pessoas conhecidas, tudo aquilo parecia um maldito bloco fora de época teoricamente. Prático era ser daquele jeito mesmo. 
Um garoto extremamente bêbado tinha o nome do meu pai e repetia coisas caóticas que bebados repetem, pois era um menino ainda, queria parecer um velho bêbado que fala coisas caóticas que bêbados falam e por isso assim agia e dizia que amigo meu era um irmão pra ele, apontando, abraçando e discorrendo várias bandas de gosto comum aos dois.
Vejo uma cara conhecida, ali fico até sair dali e ir pro tal gramado "calvo''. Achei
isso engraçadinho. Caras de cabelo comprido, projetos de mutantes.
Apresentações de meninas simpáticas.
Signos à parte. ''Vamos no banheiro perto do arco íris"
Ok, vamos.
Era um bar/restaurante, não podia entrar com bebida - então deixei minha tripa com cachaça no lado de fora e entramos no banheiro quente. As meninas mijaram, acho que falei coisas de meninas e saímos, estava quente demais mesmo.

Tinha um bar com nome tipo ''deleite'', com luz vermelha e uma escada misteriosa.
Queria ir ali, mas supostamente era caro. Uma menina dava dicas de como varrer
para um lixeiro que varria uma porrada de coisas do chão, onde as pessoas acham super normal jogar copos e papéis. Sabe, é como se limpo não fosse o lugar que queriam
estar e sabiam que estavam. Ou seja, se lá estivesse limpo eles não estariam ali, ficariam desconfigurados. Enfim, rinocerontes de Ionesco em seu Teatro nonsense.
 
Pés doendo, bares fechados - isso é a famosa lapa? ok, ali todos eram irmãos,
mas as coisas boas fechavam cedo. Desculpa, se for assim prefiro rio das trevas, perto da roça. Nos restara um bar com forró que as 8 da manhã tocava "chupa que é de uva". Achei justo, tinha um cara que parecia o hit - o palhaço  que come crianças na obra prima do medo. Uma das bebidas era gengibre  com cachaça. ''Quero isso aí mesmo''. Pombos voavam meio putos da vida e construções históricas me deixavam menos perturbada com aquilo tudo.
 
Dá pra beber e voltar pela manhã sem problema se é justamente nessa hora
que  a bebedeira te rouba a consciência e assim não se cansa de andar e andar.
MAS estava consciente e por isso essa parte não foi legal - tirei os sapatos
e andei pela lama nada poética já que era dia. Um casal colocou uma toalhinha
em cima de uma mesa no meio da calçada e pôs-se a vender café, chocolate quente e café com leite. Ela nos deu um copinho (estilo copo grátis de café do mercado) com um outro copinho embaixo, já que estava muito quente. Tentamos comprar um pão com manteiga,
mas cobraram quase 5 reais, achei um absurdo e quase coloquei as mãos pro alto.
"Pastel chinês, pastel chinês", amigo meu repetia, e  repetia também "cigarro, cigarro,
varejo!" há, e parando no meio do caminho pra comentar com olhar sensacional, completando: "ficarei por aqui, o bar numseioquê (nao lembro o nome e seria antiético dizer também) precisa de mim".
"Se comprar um cigarro a varejo eu juro que vou embora daqui no 1o ônibus". -
digo. 

Treme o ônibus e pra mim é como estar em um berço, já que meus pés estavam doendo demais e finalmente havia sentado.

Mais um tempo e páro em um ponto, pensando: "ó, e agora, quem poderá me defender?".
Antes do chapolim colorado aparecer, um cara de moto amarela parou e disse: "oi, sou eu". Eu disse: "não conheço você" e ele ficou olhando. Repeti: "não te conheço". Bem, finalmente ele se foi - fiquei pensativa, será que era o chapolim? Não era.
Logo estou sã e salva, com os pés em uma água maravilhosa. Uma hora acordo e sou feliz por lavar os pés durante mais duas horas.




foto


Só fica legal em preto e branco.

terça-feira, 29 de março de 2011

BARATA

Uma Barata Chamada Kafka

Inimigos Do Rei 

Composição : Luiz Guilherme/Marcelo Marques/Paulinho Moska

Encontrei uma barata na cozinha
Eu olhei prá ela
Ela olhou prá mim
Ofereci a ela
Um pedaço de pudim
O curioso foi que ela...
Ela disse: Sim!
Vem cá ficar comigo
Sim! Goste de tudo que eu gosto
Sim! Vem cá ficar comigo
Sim! Vem, kafka...
Ofereci a ela
Um disco do Sex pistols
Ofereci a ela
Uma batida de limão
Perguntei se ela
Gostava dos Beatles
Perguntei se ela
Era de escorpião...
Ela disse: Sim!
Vem cá ficar comigo
Sim! Goste de tudo que eu gosto
Sim! Vem cá ficar comigo
Sim! Vem, kafka...
Você mora na barata ribeiro
Num edifício
Que tem um buraco
Perto do chuveiro
Já se drogou com detefon
Insetizan, fumou baygon
Tudo quanto é tipo de veneno
Você acha bom...
Sim!
Vem cá ficar comigo
Sim! Goste de tudo que eu gosto
Sim! Vem cá ficar comigo
Sim! Vem, kafungá...
Como posso evitar
Essa coincidência
Encontrar uma barata
Com a minha aparência
Como posso evitar...
La Cucaracha La Cucaracha
Tome cuidado com a
Sandália de borracha...(2x)
Sim!
Vem cá ficar comigo
Sim! Goste de tudo que eu gosto
Sim! Vem cá ficar comigo
Sim! Vem, kafka...
La Cucaracha La Cucaracha
Tome cuidado com a
Sandália de borracha...(2x)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Trajetória

'Um toque e já está imóvel por dentro, tentando fugir por fora.
A negação é uma mentira gostosa, mais intensa que o charme.

Um toque
e um ano passa - agora os toques são de origem questionadora, os segredos tentam fugir de uma situação criada.

E mais um ano.

O toque não parece existir, é preciso entender a identidade.
Mais um e os toques existem, parecendo uma auto-carícia.
Se mover é demorado e a intimidade é um templo.
A vida vai agir e os anos poderão se tornar meses, depois dias, logo uma noite apenas, só mais uma. E não mais. 

Dez anos luz no escuro

A lembrança é agora um toque agressivo. Encurralados, pensam em voltar. Não existe toque mais intenso que o ultimo?
A esperança encontra abrigo onde as tristezas parecem lhes trancar. A tristeza, assim como pecado, parece pesar.
O que mais seria um toque se não uma promessa mansa e hipócrita?

Um tempo em comum e os toques se multiplicam, já existe o divino ali.
Tudo se acalma, mesmo as ondas que nunca cessam parecem não interferir. Nada mais lindo que o primeiro toque divino, unindo mais que laço.
O amor é, mas não parece.
Fagulhas de uma pequena explosão futura, a corrente estoura.

O que mais seria um primeiro toque do novo? A história não é mais tão doce. A doçura era então daquelas mentiras gostosas...

Ninguem se cansa de sentir, apenas tocar.
O toque a deixa vermelha, seus olhos ardem, uma flor se abre no ventre - só mais um olhar de um dia sem volta,
permeado de sonhos entrelaçados que o mundo nunca verá.


Dois pássaros a namorar

sexta-feira, 11 de março de 2011

Sem glamour algum

Por quê eu demoro tanto tempo escolhendo roupa?

- A pesquisa de preço é árdua. Não consigo comprar
algo sem ver em mais 3 lojas de diferentes bairros
o preço - e em ocasiões específicas de ir a tal bairro de qualquer forma.

Em copacabana tem uma loja bem parecida com
uma aqui da freguesia/JPA/zonaoeste: só que
as camisas de 10 reais são menos feias do que
as daqui, que também são 10 reais. Além dessas, também vestidos de 70, 35, 60, 55 reais, aí é óbvio que vou dizer: "estamos em copacabana, uma loja aqui é muito mais cara". É até por esse mesmo motivo que prefiro não comprar roupas em shopping.

Fui então até a Taquara/JPA/zonaoeste, o lugar mais perto (praquemmoranazonaoeste) pra se comprar roupas baratas. Show... Fui em mais de 5 lojas e, cara, coisas menos piores lá estavam por 60 reais - e ainda sim não eram do meu feitio.

Tem gente que acha 60 reais baratíssimo, o pessoal de copacabana por ex.. Agora, o pessoal da Taquara não acha o vestido de 60 caro? Não!
Pois acho caro e feio, meu Deus, pra quê tanta estampa? Céus, eu não quero estampa.

- Esse é feio, não dá não.
- Ué, mas é parecido com o que você está.
- Sim, e você acha que eu gosto do que eu tô?
É prático: barato e leve, por isso comprei e uso.

Aí as mulheres na loja repetem coisas como: "mulheres demoram muito pra escolher, não adianta!!" - etc.. Acho que outras mulheres, e homens
inclusive, fazem essa pesquisa de preço... Não são grande parte, mas sinceramente toda vez que compro roupa eu penso o que eu poderia estar comprando de produtivo com o dinheiro extra que pagaria se fosse em qualquer loja sem pesquisa alguma.
E aí, sou prática?

Não importa, ali sou mais uma mulher que demora pra comprar roupa.
Não tenho orgulho disso, não acho o máximo do feminino e engraçadinho a mulher se importar tanto com a aparência, ter tantos padrões e competição. Isso ainda é consequência de um machismo, ainda é a mulher se tornar escrava de uma beleza idealizada por homens ou para homens ou mulheres que pensam em padrões que nem sabem da onde vem - menos ainda se perguntam porquê. É bonito se tornar fantoche do capitalismo? É feminino gastar muito dinheiro em roupa?

Não julgo tecidos e o quanto são confortáveis, esquentam ou são frescos, concordo também com essa procura - afinal, quem pode, por que não comprar um tecido que lhe agrada mais, mesmo sendo mais caro? Trabalhou, manda vê, compra sim... Mas cara, poucas as pessoas que falam em tecido relacionando a conforto. O normal é relacionar ao preço, a "finura". 

Lembro de uma roda de discussão da faculdade em que o professor levantou a questão dos preços das coisas, influências etc.. Na sala a maioria das meninas falava bastante de bolsas. Há, e na sala inteira só tinha um cara - que faltava - o resto era mulher. ótimo? Bem, então uma mulher foi comentar que não ligava nem um pouco pra isso, que estava mais preocupada com outras coisas e tentava economizar sempre etc. Perguntei onde ela ia comprar roupa. "Vou ali no barra shopping mesmo, pra minha filha compro na bicho comeu blablabla". A bicho comeu é uma das lojas de roupa infantil mais caras do Rio, é uma marca conhecida e tal, assim como qualquer loja de shopping você vai encontrar preços maiores... Isso não é se importar? É ser alienada? E a alienação é culpa dela só? Não é só culpa dela e é sim um sintoma de influência, capitalismo, vaidade. Ninguém está livre da vaidade seja lá em quê área da vida, mas não querendo ser tão chata (mas já sendo chata), se  não se importa com marca etc. o que diabos fará na bicho comeu? No  barra shopping? Tem cartão da renner? leeder? Não têm. Foi uma discussão interessante e desinteressante é alfinetar as pessoas,
sabia que estava ali pra colocar em prática o que tanto falo: a união. 

A mulher é insegura, o homem é inseguro. Todos somos vítimas e também propulsores do capitalismo.

Nós alimentamos isso aí, sorrindo e achando graça de comerciais de lojas que exploram a busca da beleza padronizada. 


FEITIO

1. Forma, configuração, feição, conformação.
2. Corte; talho.
3. Fig. Espécie, laia, qualidade.
4. Carácter!Caráter, modo de pensar ou de proceder, génio, índole.
5. Mão-de-obra; preço do trabalho (do alfaiate, modista, etc.)
6. Excremento de coelho, raposa e outros animais.




''A existência da moda é uma das grandes sacadas da estrutura do sistema capitalista. As roupas, calçados, maquiagens, penteados, etc. mudam no mínimo a cada estação, isso faz com que os produtos se renovem a cada momento, mas a grande sacada desse setor é que muitas vezes podem ser apresentadas modas espelhadas em outras épocas, o que faz com que compremos novamente os produtos que tínhamos na década de 1970, ou seja, acabamos comprando duas vezes o mesmo produto só que em épocas diferentes, não necessariamente porque gostamos, mas porque o grupo social assim exige.
Cabe aqui ressaltar que a moda não trará novamente algo de cinco anos atrás, pois se corre o risco de eu ainda ter guardado no meu armário e, dessa maneira, não necessitarei fazer a compra.
Essa é a nossa famosa lógica do consumo, a qual está fundamentada na nossa cultura, na estrutura do sistema capitalista, e faz com que, por intermédio de vários patamares, sendo um deles a MODA, o fluxo financeiro continue fluindo concretizando a estrutura do sistema capitalista.
Revista Sociologia/Tatiana Martins Alméri é socióloga pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, mestre em Sociologia Política e professora na Unip e na Fatec (taalmeri2@hotmail.com)''

willtirando

quarta-feira, 2 de março de 2011

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A fluidez do tempo (capitalista)


''A persistência da memória'' (1931), de Salvador Dalí, levou duas horas pra ser feito (têm 24x 33cm) e é um dos quadros mais conhecidos do artista, eternizando aquele
 "relógio derretido" que já inspirou muito designer por aí (assim como muitos elementos
das obras de Dali).


[a+persistencia+da+memoria+dali.jpg]


Bem, BLUTEKUSA recriou esse objeto surreal com funcionalidade normal de um relógio e o comercializou pra Amazon!


http://rockntech.com.br/wp-content/uploads/2011/01/melting-clock_1.jpg

Como na pintura, ele só pode ser usado dessa forma:




Para ver ou comprar: Amazon

quinta-feira, 8 de maio de 2008

íris

O dia nasceu mais uma vez quando abri meus olhos, um sono delicioso que me deixa em êxtase me levantou da cama.
Pensamentos consagram idéias a todo o momento, uma paz embriagada de sons, uma praia distante em meio a uma noite cheia de nuvens, cheia de palavras escritas em mais um caderno todo branco como o céu de todas as manhãs, como alguém disse que é cada dia essa página em branco, que me fantasia os atos, imaginando conjecturas, imaginando ondas nos pés e olhar no horizonte: mais uma lembrança concertada por um dia branco. 

O conforto do piano se espalhando pelos aposentos, da névoa indo embora com uns sonetos em cima da mesa, na altura das minhas mãos. 

Tudo se quebra com o som estridente da campainha da manhã, o que é agora, o que pode ser que tire a paz de inventar sonhos essa hora do dia, logo fora de mim? 

Abro as janelas que só haviam permanecidas fechadas por que o contato com o barulho externo dos carros viajando no tráfego mesmo que escasso não me estimula a viver na cidade, nem as buzinas do acaso, muito menos o barulho do ônibus fazendo destinos, infelizmente, não é o que me estimula a procurar o meu hoje. 

Mas abro, abro as janelas para ver o clarão e espalhar os sons do sossego ao resto do dia que ficou para metade do mundo, abro as janelas para encontrar alguns sonhos perdidos no formato das nuvens e nada poderia me interessar mais do que elas e as pétalas que caíram nesse outono. 

Não vi olhos recheados de dramas, nem o tráfego das pessoas ensinadas, muito menos o pesadelo dos meus sonhos: Apenas vi meu destino em asas cada vez mais ágeis, cada vez mais leves olhos de liberdade, uma liberdade que nunca vi igual: mas por que presa a mim, nessa manhã sem sol? 

Presa aos meus olhos já enormes, uma íris em comum como destinos em harmonia, asas pesarosas minhas e aquelas, aquelas tão nítidas e lindas, a verdadeira beleza infinita: natural, despida e cheia de si, cheia de vida, correndo por suas asas vívidas, com cores sentidas apenas por mim naquele momento – mais por ninguém – apreciando um espetáculo do universo, que me fez desaguar todos meus medos presos em raízes podres. 

Não sabia o que dizer, minha alma sorriu sem desapego algum, um sorriso diferente de todos os outros que me cativa o externo: um sorriso verdadeiro.
E lá, emitindo sons tão mágicos como meus sonhos infantis, uma pintura no ar que parecia o fim de todas as historias que prometiam o recomeço.

Permanecera tanto tempo apenas junto aos meus olhos, como se quisesse passar uma mensagem, como se passasse aos poucos todas elas, e tão rápido como as asas de um beija-flor, tão suaves como tudo ao seu redor envolvendo emissões, não pude balbuciar, e minha alma voou junto a ele, como final feliz.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

entre passos me sorria






As sapatilhas serviram para alguma coisa, eu sabia que poderiam servir, mas ainda sim estão largas. Então mesmo que o salto seja mínimo (ou eu apenas diga isso), é complicado andar nas ruas meio esburacadas, com mini- paralelepípedos e recheadas de barraquinhas, lixo, butucas, lojas, portos-salva-vidas-de-água-de-coco (salvam mesmo) e pessoas, muitas, pra lá e pra cá: "quanto é isso, quanto é aquilo". "Gostosa!, loirinha!, arrasa!, vem cá! Entra aqui! e...
"- saieuer.." - Me bastava já, mas não estava estressada, mesmo sem uma música penetrando meus ouvidos, é como se me desconectasse do mundo prático para me conectar ao mundo subjetivo, a fim de entender e ver além das circunstâncias, sem deixar de perceber sua existência. (Funciona na vida prática).
A questão é que foi perto demais, e já estava escutando demais antes e isto foi baixo demais, não de baixeza. Já havia agradecido um simpático velho de uma barraquinha de doces e também comprei uma daquelas pequenas roupas íntimas de frufru (ou 3 por um preço econômico). Tudo estava mais engraçado, por que não tornar mais ainda?
- Passou um flash em que eu desenhava em um papel, no balcão de uma livraria que deveria ser barata mas não era e que eu devia comprar um livro do Rubem que eu já li, mas não comprei. O carinha de barbicha foi pesquisar o preço, afinal, em um computador. Logo abri um diálogo sobre o tal - computador - algo como eles nos enganarem, eles não serem eficientes, minha memória se distrai e não consigo lembrar a palavra certa, mas tive impressão que havia sido um diálogo de comédia-romântica quando ele sorriu, e depois, e os olhos. Algumas piadas, outros livros, ele só lia Gabriel Garcia Marques - Por que não lê Rubem Fonseca? - e coincidentemente ele ia ler aquele dia, ou estava pensando em ler. A correria do trabalho, ao menos havia uma intenção e é isto que vale, sempre foi.
- Vocês que trabalham aqui podem aproveitar pra ler nos intervalos, isso deve ser bom! - " É, podemos até, quando não há muito movimento também dá para pegar um..",
- "A menos que uma garota fique falando banalidades e tenha que dar atenção" " Ele ri, nega e aquela coisa toda. Nada foi charme, só queria mais uma risada. Risadas tiradas são tesouros guardados. Mesmo que as tímidas, mas não as plácidas, outras piadas e momentos ficam por conta da memória, pois neste momento o flash passou -

- O quê?
- saicmg. - Ele estava saindo consigo mesmo, constrangido já, devia pensar por que diabo eu retruquei...
- Ah sim, não entendi o que você falou, mas deve ter sido mais um daqueles caras que falam coisas quando as mulheres passam, certo?
Mais um tesouro computado. E daí começa-se o que não se começa e o que o fim não existe, portanto. E muitas palavras ressoadas depois, encontram-se uma curiosidade do meu nome, algo estranho, como o que estava fazendo ali, (que também era perguntar demais).
- Está perguntando demais. - Vá lá comprar sua guitarra, não vou comprar um café pra tomarmos e ninguém vai trepar, a barba é impressionante, e os olhos são de chocolate, se tivesse mais de 32 não acreditava em porra nenhuma, mas tinha menos, porém mais que 28. E isso tudo ficou só no pensamento sepultado. E se gostar da França é ponto, não ligo para o desencontro. Até certo ponto a média de ficar adivinhando coisas e nomes permaneceu imune.
"- Então você poderia morar ali, seria genial.", "-Você acha que eu estou comendo muito açaí? É todo dia."

- É algo realmente infantil fazer essas coisas; você é retardado.; Homens interessantes costumam ter barbas./; Você que é engraçado.
Isso tá ficando ridículo, vamos embora. -


O cara que tocava lá no pátio da vila lobos passou com seus instrumentos, seus amigos, um deles que tocava flauta - que gosto muito, mas que tanto havia escutado que meus ouvidos já queriam matá-lo - e o cabelo absurdamente comprido do metaleiro que virou tocador de cavaquinho.

E mesmo assim, ninguém acha estranho dois estranhos não se estranharem? -
Isso é realmente algo estranho hoje em dia, não é? Tirando em boates né, mas eu digo, sem necessariamente um homem alto ou baixo te agarrar ou algo acontecer por pressão local, pressão do álcool, sei la o quê acontece, só sei que acontece, e lá não é estranho, mas na rua sim, é estranho (raro e improvável).

A simpatia na rua é estranha. Apresentar a simpatia para as pessoas é um ato muito interessante, é como mostrar lugares novos no mesmo lugar - constando que todo local fica mais agradável assim. Tirando o fato de que a Cinelândia mesmo com toda sua simpatia, tem as escadarias gigantes até o banheiro que a luz pisca.
Mas vamos à simpatia: Digo uma que não seja ordinária, acrescento. Se não, só as mulheres terão um local interessante (e ao mesmo tempo vida sentimental vazia). A questão que exploro é você poder tornar o dia de alguém melhor, e quanto mais tornar, mais ganhar seu dia.
Depende muito, a vida é dura, quero ver quem trabalha, quem tem tempo para parar e ver o teatro do boneco tocando bateria no centro?
Quem tem tempo para pensar em não pensar? Quem não tem tempo para não ter tempo?
Precisa-se ser agradável com os íntimos, com os familiares, com os cachorros que te lambem principalmente. Mas não é bem por aí, não é por aí que tudo tem mesmo ido bem. É preciso prezar uma harmonia que acaba se tornando interna pra qualquer um. Por algum motivo, prefiro essencialmente fazer isso com as pessoas sozinhas que "não tem tempo" e ao mesmo tempo, terão mais um minuto para sorrir assim bobamente e fazer uma lembrança afagar os dias. Prefiro isto à quem, torneado dentro de um corredor, fala e fala, mesmo que sendo algo com teor interessante - do qual não tenho certeza, o interessante anda tão relativo, então digo: ou não - é algo como ter faro pra pessoas que comem muito açaí, pessoas que gostam de crônicas, que possam amar Fight Club, amam Mario Quintana (é querer demais, também, achar um que adore meu querido Bandeira integralmente) e que possam mudar o mundo. Que possam fazer diferença, e é interessante impulsionar, afinal. Mas tudo, tudo, é tão implícito...

Hoje ouvi dizer que um carinha em um certo programa da ESPN disse que entre as linhas não têm nada: que essa coisa de entrelinhas é babaquice. Ri tristemente ao ter que dizer que Clarisse dizia-se já esmagada por elas. Se fosse como o primeiro diz, quem seria Clarisse e quem seria todos os que consagraram e expandiram o que o interior é capaz, e não o que a rapidez "versátil" com máquinas é capaz....Isto é como um mergulho na vida para solucioná-la, e existem tantas formas do mesmo a se explorar...
Também ouvi sobre algumas pessoas hoje em dia que são bons frutos: boas cabeças que não tem deixa em um mercado maçante que se encontra o mundo de hoje, que cresce tão rápido e tão paradoxalmente, afinal, creio. São essas que devem fazer a diferença, e "não escolhemos nascer, mas escolhemos fazer a nossa diferença, plantando nossa semente". (revolucionaria)
Ainda escutar de professores essas coisas hoje em dia, é algo já difícil, ainda mais ver seu efeito. Mas acredito que todos nós temos o dom de sermos professores e alunos. E fazermos nossa diferença, e nunca é chato repetir que nenhum bom ato é pequeno, nem hoje, nem amanhã.

-Deixa eu te fazer a pergunta, cara.

E o amor?


" Talvez o tenha sentido em alguns momentos da minha vida, breves, talvez minutos. Já sofri por alguém e tal, mas.. "

-Sofrer é por vaidade, insegurança, não é amor.


Olha nos meus olhos atentamente.


"- É verdade, por isto, senti algo em alguns minutos..."


- Acredita-se, que amor é para sempre.


Mais um riso escuta-se.

" Como a igreja batista ali... já entendemos que isso não existe e ..."


- Então, amor é uma lenda, pra você?

Ri.

"- Algo Infantil"

- Infantil, como dizer coisas para mulheres no meio da rua.

Mais risos.

- Ainda vai saber o que é amor, ou não, mas um dia sentirá, amor de qualquer forma.

"- Precisará ser muito boa para isso, estou cansado, não trago nem celular, não quero ninguém me ligando, de todas e não dou o rabo, não está no contrato"

(Rio, penso em celulares que não trago. )

- Comigo é algo assim. O saco fica cheio, mesmo sem ter um... Mas creia, quando acontecer, você entenderá.




(A memória não redige todas as palavras, ela redige apenas a dita bela crônica da lembrança)


É justo que se interfira nas conversas, na música, na sociedade, sempre para o bem da nação, mesmo que ainda não entenda por que tudo precisa ser tão perfeitamente em harmonia,e a simpatia faça diferença, mesmo quando seu dia não está como gostaria. Mas ainda não aconteceu e já disse mil vezes que quando acontecer a tal coisa, eles hão de entender. E 500 entenderam (ou, superficialmente?), e eu fico com a parte que consta do cardápio: criar arte nas pessoas, não romance.
O dia está exatamente como estará seu estado, precisa-se regar-se constantemente e ao mundo, também, e só de fazer a si mesmo, já o está ajudando. Uma das nossas habilidades constadas turísticas, deve-se ser prezada, não por ser turística, e sim por que este calor brasileiro e simpatia deve vir sempre do nosso humanismo.