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terça-feira, 5 de julho de 2011

Sobre os dias eternos

É estranho viver dias eternos.
Nos dias eternos a ressaca vira energético, as comidas são digeridas perfeitamente .
Somos capazes de metáforas não tão clichês
De abrigar o sentimento na reciclagem e fazer uma realidade virar decisão
sem qualquer movimento certo

Dá pra sentir que nossas risadas serão escutadas ainda durante semanas e lembradas durante anos e anos.

Nos dias eternos pessoas queridas se reúnem e coisas não tão queridas, mesmo nao sendo transmutadas,
emergem em alguma bebida, se distraindo sem grandes patologias.
Nos dias eternos nada é clínico, definitivamente.

Nesses dias o amanhã ainda vai demorar demais, e fica difícil demais pensarmos nele
nesses dias as caminhadas são ao contrário e quilômetros são alguns passos a mais.
Aquele frio fica engraçado e aquece como o verão costuma pretender aquecer (mas no final apenas queima).

Céus, nos dias eternos nem mesmo consigo descrever de forma impessoal pra ficar poético.
Nesses dias nada é indireto mais,
o irônico é lúdico demais pra soar agressivo ou subversivo
acabo dizendo que colocamos fantoches na cabeça ou no braço do violão e
assim evoluímos ganhando golpes que tiram 75 % do HP do oponente.

Nos dias eternos o aleatório é sinestésico,
todas as impressões culturais ficam borradas e prestamos
atenção na falta de atenção do mundo,
disfarçada de uma porrada de expressões engraçadas.

É importante dizer que os dias eternos são todos musicados, não
há uma frase que não gere uma nota musical,
sem alusão a um subjetivo tão encantador, firme, mais real que todas
as informações denotativas que insistem em nos amarrar por aqui

Os dias eternos obviamente não tem final,
vivemos um abstrato que o limite do tempo não poderia entender
e até a partida é também uma viagem,

(...)
Mais ou menos assim são os dias eternos;

E o melhor é que o futuro já vê o passado,
e mesmo certamente nostálgico, não damos adeus pra ninguém.


Salvador Dali

Salvador Dali – “A persistência da memória”