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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Arnaldo Jabor_

'' Crônica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.''

obs_síndromes

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Realejo perdido

- Rouault. *

Acordar, sentir uma dor quase literal, aliás, literal. Um frio na barriga só de pensar e sendo assim, não querer pensar em nada. E quando tenta lembrar, acaba perdido em fragmentos, até um borrão negro tomar conta de suas memórias, como se tivessem apagado a luz.
Olhares, conversas sem particular, dores físicas, juventude que não queria estar. Mais que isso... Achar que a vida é bem mais que isso - e como faz o gênero juvenil "virtude transviada", derrama o próprio não ter da própria.
Quando abre os olhos, não têm os outros, não tem paixão nem idade, e lembra sem querer lembrar-se da falta de zelo, da sacanagem, por assim ser e dizer, mas não pensar! O pensamento vem sem palavras, incapaz de descrever-se e não sentir arder a alma se debatendo contra o mundo, dentro do corpo, que afinal, não sabe chorar.
Não tem mais o que tinha, e o que tinha não era o que queria no momento, mas ficou para saber o que havia por dentro.
Queria_s uma cor, uma dor, para acordar. Pois teve, longe demais para voltar. E existem esquinas tortas e não passos tortos aonde poderiam andar.
Em ponte cuja lava arde, queima, quer matar. Não irá procurar o que não sabe amar, não sabe como descobre e descobre quando tanto sabe tampouco pensa em sentir, caindo no valioso conceito, que se quebra e mesmo assim se bebe querendo recordar de esquecer. Se um dia leu, escreveu, torce agora a língua, dentro de si, destruindo tudo e todos, pois desmente até o que não devia, e assim, acaba sem poder reclamar, transbordar.
Só pode deter. Detenha-se até conseguir virar enfim o mar, horizonte. E o que esperar da vida sem esperar? Apenas pesadelos que atormentam, quando dorme e aguenta firme quando fecha os olhos. O que faz quando não aguenta mais um ciclo cheio de maldições, onde vivera a lenda, onde ainda sonha, (mesmo pouco) torna-se este sonho pouco, seu tudo. Um mundo paralelo, verdadeiro. O resto é submundo sujo, distância de si mesmo.

Levante-se daí. Neste mundo de desvalores, o que vale mesmo é a intenção, quando só se pretende escutar o que proclama e reclama a mente, o coração.
Ressoa.



* A obra de Rouault tem sido descrita como “o fauvismo de óculos escuros”.
A cor fauvinista levada à profundidades emocionais e psicológicas, em a prostituta no espelho.
(expressionismofrancês.jpg)

(- Carolina.)