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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Bienal XV


A 15ª Bienal do Livro foi a melhor.
Investimento de R$ 27 milhões e expectativa de faturamento calculada em R$ 50 milhões. É justo, ficou linda.

É um evento incrível onde todos estão em um lugar só, compartilhando dos seus gostos sem ser apertando em 'curtir' ou qualquer coisa pela internet que, apesar de inclusiva, acaba se tornando artificial.

 Na bienal você vê o interesse real das pessoas nas atividades:  quem realmente têm paciência pra uma palestra voltada pra um tema específico só pode ser quem realmente gosta daquele tema, claro. (Ok, excessão pro pessoal que escuta poemas ou histórias só porque o Thiago Lacerda iria recitá-las).
Mas quem gosta de poesia, quem prefere quadrinhos se esbaldando na comics etc, quem admite e prefere os livros de auto-ajuda, se acaba nos romances diversos ou vai lá pros eventos religiosos espíritas, evangélicos, católicos etc, todos no mesmo lugar (ou pavilhão, enfim).

Há dois anos atrás descobri que o chão de cada pavilhão dá a cor do pavilhão. Esse ano descobri a mesma coisa. Mas o que importa? A verdade é que o desenhista Zigg, depois de desenhar animando as crianças com gracinhas e música, dançou e cantou uma dança da caveira muito genial, nossa, muito!
- Você era uma das crianças que participava das dinâmicas? (ZIgg pediu que as crianças levantassem, batessem o pé, as mãos, cantassem tal trecho etc)
- Não! Eu tinha vergonha!

Tentei lembrar se eu era. Meus pais diziam: " vai vai vai!", eu ficava com vergonha e algumas vezes ia.

No sarau do Manoel de Barros acabei ficando em uma mesa reservada pra algum artista, logo em frente ao Antonio Calloni ( só conseguia imaginá-lo como Mohamed) e Maria Rezende (que estudou na puc e até terminar a faculdade de sei lá o quê nunca tinha escutado falar em Manoel de barros, admitiu). Temi que o MOhamed não gostasse de fato de MB, só estivesse ali de sacanagem, afinal ele é um ator e enfim atua bem. Mas também é escritor e me pareceu um cara genial, descontraído. Maria Rezende, apesar do meu preconceito, pareceu bem natural e divertida, gostei mesmo. Os poemas nem preciso dizer, todos eu sorria e sentia coisas maravilhosas dentro do meu cérebro, coração e bunda, porque eu estava com uma calcinha que me machucava, na verdade. Mas foi maravilhoso, nossa!

Antes da bienal começar fui fuxicar o que teria no café literário e alguns estandes. Quando li André Dahmer fiquei pasma, reli, nossa, André Dahmer, que acho genial. Logo depois li que estaria com Rafael Sicca, Lourenço Mutarelli, Rafael Coutinho e o editor Lobo, da editora Barba Negra, participando de uma mesa de debate sobre o cruzamento de linguagens. Cada um com um pensamento  interessante, um idiota e tal e Mutarelli falando pouco, mas bem. Andre Dahmer é exatamente como eu imaginava que era, assim como sua forma de expressão pouco integrada e muito irônica. Umas mulheres de terninho e batom vermelho passavam pra nos dar papelzinho se quiséssemos perguntar alguma coisa pra alguém ali. Ninguém respondeu o que perguntei, o barba negra não repassou muito bem. ALiás que péssimo mediador, mas tudo bem.

Muito livro bom barato e um estande da ciranda cultural também trazia o troca troca de livros, que obviamente aproveitei muito, uma alegria só, nossa!

Poucos eventos considero tão completos quanto esse - e não senti vontade alguma de beber ou coisa assim, diferente do que aconteceria  se estivesse em uma boate ou barzinho, social e tal.
Falei como integrante do AA agora, mas tudo bem. (Nao tinha estande do AA.)

Queria estar com mil reais pra gastar naquelas coisas magníficas, inclusive um livro de inclusão sobre libras ou a Diva Prado, uma senhora genial falando sobre uma nova técnica de programação mental que veio antes dessas putarias de O segredo ou até a PNL. Legal conversar sobre isso, mesmo, muito. Ela disse que um filho quase morreu de Salmonela, ela estava em um cruzeiro e sentiu algo. Tudo sensacional. Nesse mesmo local faziam um "teste de estresse" que funcionava por ondas magnéticas de Jah etc correntes nervosas etc. Naturalmente deu que estou mega estressada, ainda mais quando ela pediu pra eu pensar em algo específico.

Mas lá só tinha espaço pra ficar a vontade... Fiquei a vontade demais, desenhei em uma plataforma muito louca e fui expremida na comicx, onde comprei mangás e hentais (que perguntei à parte, porque nao estavam a mostra).

Várias coisas me chamaram atenção, tanto que não dá pra descrever. Só posso dizer que valeu muito, muito mesmo.

estande ''casa dos espíritos'', pavilhão verde

Menos ou mais

Mais ou menos em outro mundo, onde formigas brincam de titanic
e as aranhas são mexicanas refugiadas em vários cantos de todos os continentes
Mais ou menos em um mundo cheio de versões reais de mentiras bobas,
de versos sorteados e números por extenso, onde a moda entre os jornalistas é usar "pontual" pra maioria das coisas na realidade pouco lineares
Mais ou menos em um lugar onde a mágoa se compara a uma plantinha nascendo em uma tomada, completamente improvável de ser e mesmo assim parece dádiva, parece algo que devemos respeitar

Mais ou menos em um mundo de sons maravilhosos, onde as notas musicais são lembranças e o futuro é um sonho que ninguém está sonhando e por isso é bom e por isso é longe

Menos ou mais em um mundo com vários tons claros no céu,
onde pego o jornal e passo por uma árvore com cogumelos nojentos e só lembro do toad agora, o que é um absurdo, na hora apenas um garoto estranho nipônico nu com uma cabeça de burro, cozinhando cogumelos que pegou em um esterco de bicho inteligente vegetariano etc presos em um vídeo lembrado, dispensável

Menos ou mais em pedaços válidos de um ano inteiro, de vagas atrocidades e um desespero instável

Menos ou mais em um mundo onde consigo sobreviver através de grades de ferro e as palavras fazem de coisas idiotas, coisas bonitas e as coisas bonitas são percebidas portanto em palavras idiotas - e esse é o pensamento central, não positivista, mas parecido com um hino nacional exagerado

Mais ou menos em um mundo que sonho escrever "mãe, te amo'' com mostarda preta em um tapete marrom escuro de uma escola hoje bilingue cheia de putarias unificadoras mas que era preconceituosa como a maioria.
Num mundo de papéis picados, afetos multiplicados pela distância necessária pra não me magoar e onde os recomeços são começos apenas e ninguém acha que não deve.
Menos ou mais em um mundo onde só bebo café e água,
só como coisas extremamente saudáveis ou chocolates industrializados péssimos em processos radioativos.

Mais ou menos onde escrever é viver cada linha de pensamento e não existe dever, não existe devir e assim mesmo um mundo que posso encontrar didática em confusões humanas

Mais ou menos em um mundo de esmalte sintético, de pássaros extintos e pensamentos sem qualquer compartilhamento humano - apenas idéias egocêntricas injustiçadas refletidas numa metáfora de diamante furta cor pro entendimento do resto das pessoas, objetos etc.

Mais ou menos em um mundo onde caio como o fanático pela santa de Schoenberg em um conto carinhoso em data que eu queria datar estando e não apenas lendo mais ou menos.

Menos ou mais em tratamentos futuros de águas brasileiras e medos passados por passageiras que parecem assassinas pedísseis com terrível voz

Mas em um mundo menos cruel que o verdadeiro, sem dúvida
E mesmo assim tão burro