A Shemá é parte importante das orações judaicas e há o costume de recitá-la pela manhã ao rezarmos por mais uma noite de sono na qual fomos resguardados pela misericórdia divina e ao deitarmos quando damos graça por tudo o que nos aconteceu ao longo do dia.
Mas o que essa frase quer dizer? De acordo com o genial Aryeh Kaplan:
A Shemá nos pede para ouvirmos com cada fibra de nosso ser, dizendo-nos para abrimos nossas percepções completamente, de modo a experimentarmos a unidade de Deus.
O nome Israel, usado no começo, é o nome dado a Jacó depois que ele luta com o anjo (Gênesis 32:28). De acordo com a Torá, o nome Israel quer dizer “ele que luta com o Divino”. Há uma série de discussões a respeito da natureza do anjo que Jacó enfrentou no caminho de volta para casa – se esse era um anjo de luz ou sombra. Independente disso, o ponto aqui é que quando uma pessoa luta com o divino, ela se abre tanto para o bem quanto para o mal – ao combater as forças do bem ou do mal.
Comentários afirmam que a luta entre Israel e o anjo deu-se em um estado meditativo, ao invés de um estado físico. O nome Israel pertenceria, portanto, ao estado espiritual e aos enfrentamentos nesse plano.
Uma vez em estado meditativo, nos conectamos ao espiritual. A Shemá se remete a qualquer um que medite em busca de uma resposta e faz um chamado ao Israel arquetípico dentro de nós.
Esse Israel arquetípico é a parte de nós que deseja transcender os limites físicos e busca o espiritual. A Shemá diz para esse Israel ouvir, para silenciar a mente completamente e perceber a mensagem da unidade de Deus. No entanto, só é possível ouvir perfeitamente e sem nenhuma intereferência em estado meditativo.
Quando dizemos Adonai, falamos daquilo para o qual a mente ainda não tem uma categoria definida. Ainda assim, na próxima palavra “Eloheinu” chamamos Adonai de “nosso Deus”, e reconhecemos que podemos nos relacionar com Deus e experimentar sua proximidade de tal maneira que podemos chamá-Lo de “nosso”. Esse é um conceito notável: podemos pensar a respeito do infinito e ainda assim chamá-lo de nosso. O fato de Deus permitir que O chamemos de noso Deus é o maior presente possível.
A Shemá termina com “o Senhor é UM”. Aqui estamos a dizer que não importa de quantas maneiras diferentes experimentamos Deus, todas elas têm uma mesma fonte.