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quarta-feira, 30 de março de 2011

No beco molhado ninguém se conhece


Não tinha morango, a caipirinha foi de manga (polpa), achei legal o cara sair da ''cozinha'' do bar e mostrar como é a polpa, congelada num saquinho.
Sentamos e prontamente mexi na bolsa, peguei um bloquinho pequeno (que mais tarde amassado ria de mim no chão) e fiz um jogo da velha, que como sempre ganhei.

Zezinho. Era um cara de baixa estatura e cabelos alisados, pontiagudos quase. O cara esbugalhava os olhos e gesticulava muito enquanto falava que lutou muito pra estar no RIo de Janeiro trabalhando como cabeleireiro e que faria nosso cabelo e ficaríamos lindos etc etc. Ele era da Paraíba em potencial.

Um monstro em potencial não é um monstro e, como todos os fumantes, devem
fumar do lado de fora do estabelecimento.

Fotos do Ayrton Senna me fizeram dizer que nada daquilo fazia sentido,
até me dizerem o nome do bar e eu entender e achar que sinuca nada tem a ver
com tudo isso e o que mais tem no lugar é sinuca, meu deus.


 Quando você amanhece em um bar não tem como não se sentir caótico,
é quase impossível. Sua cara não está arrumada, achar que está com olheiras
já te faz estar com elas e então sua cara está péssima e a luz cada vez mais clara.
Você pensa em pessoas saudáveis indo caminhar pela manhã, ou trabalhar porque são responsáveis etc. ou querem ter dinheiro pra beber até de manhã também como em um ciclo.


Outro dia no mesmo horário fui pra academia fazer yoga, cantei o mantra final da prosperidade e sai feliz, até o calor não me tirava a tranquilidade, em pleno verão. Mas nesse dia em questão já outono o calor era insuportável e fico feliz em não lembrar de todos os detalhes e revoltada em pensar que, porra, gastei tanto dinheiro com bebida, resolvi ir embora de taxi, pensando: que se dane, devo gastar no meu bem estar no mínimo o que gasto com meu mal estar.

Uma menina veio falar comigo que meu vestido estava preso no short,
o que é bom já que pelo menos eu estava de short. Encontrei ela no banheiro
depois e comentei qualquer coisa só pra ser sociável e mostrar que achei legal
ela ter me avisado. Ela disse que falaram pra não me avisar, que queriam pelo menos ter  visto, mas que como isso ja ocorreu com ela, ela sabia que não era legal e me falou uhuk, ela nao queria que eu passasse o mesmo, é um ser adorável.

Meu irmão tava contando que caiu no ônibus e todos riram dele, apenas um
mendigo - um cara excluído social que a maioria tem asco - que perguntou se ele queria ajuda e o ajudou. Ele era Jesus cristo disfarçado ou sei lá. Aí outro dia
meu irmão topou com o mesmo cara, o cara lhe pediu cigarro e ele deu uma porrada (de cigarro! hsusd).
Jesus fuma, ser generoso e excluído socialmente te faz ficar tenso abeça, mesmo, mas mentira, ele sabe que de nada adianta e que cientificamente só te deixa mais ansioso fumar.

Dei um tapeware pro Coruja (figuraça clássica do meu bairro, morador das ruas) pra ele colocar as comidas que também tinha comprado ali dentro, guardar e tal, comer ali ja que era mais fácil. Tudo pra eles é descartável, tá errado? Coruja faz uma crítica direta a dificuldade de reciclagem de tapewares - e a dificuldade de dizer o plural de tapeware que achava ter R mudo no final.
Não comi nada quase o dia inteiro prostrada na cama e descobri no dia seguinte do dia seguinte que 20 anos da minha vida vivi pura ilusão, achando que era a pessoa mais higiênica do mundo e descubro uma barata em uma gaveta do meu quarto.
Nunca achei que a desordem causava falta de higiene, não na minha vida. Olha que no tal dia da caipirinha de manga comentei sobre tocs de lavar minhas mãos com álcool e sabão de coco, querente como olhar debaixo da cama antes de dormir, o que não faço na verdade, mas monstros em potencial fazem.

Fujo dessa nojentisse? - mas meu quarto sou eu também, tipo reflexo..., aí descubro a metáfora da barata na minha personalidade. A barata existe a 500 mil anos, não é bonitinha como no Wall-e e lembra que minha falta de decisão sempre gerará conflitos que mais tarde mudarão todo o curso do meu sono. Por exemplo, não dormi no meu quarto justamente por ter uma barata lá e ser nojento o risco de enquanto eu durmo talvez aparecer uma e me estrangular ou simplesmente ser nojenta com seus rastros de merda e tal. Isso é praga por zuar as pessoas que tem medo de baratas, sem dúvida.

O lugar era um bar de rock em potencial e vi casais sambando e pessoas colocando kelly key e pagodes caóticos. Ficha pro jukebox tava cara, algumas
pessoas pediram coisas boas e do nada alguem pediu Mr Jacksson e fiquei
boquiaberta, disse: "meu deus" e meu amigo monstro em potencial conhecia
e isso foi legal também, eu ouvia essa musica com uns 13 anos e achava o máximo, mal sabia que anos depois lançariam He ya e seria tão chato.
Disse que era impossível uma musica de pagodeetc usar a palavra apogeu,
então resisti, não era apogeu, mas era apogeu sim a música é "temporal".
.
Katinguelê ou Art popular é cult agora, voce rockeiro metaleiro etc pode escutar que assim mesmo  nao será uma contradição, apenas cult e essa palavra me irrita um pouco.

''No beco molhado ninguém se conhece" - frisava umas partes, entendia tudo
errado tipo velha da praça e depois ria, eu realmente entendia errado,
achava que: "voce reclama do meu apogeu" era: "voce reclama do meu aconchego". Incapaz não eram as musicas de pagode antigas e sim eu,
percebo.
Engraçado que o Ayrton Senna parecia muito com um amigo do meu irmão
que eu era apaixonadinha e escutava "apogeu" lembrando dele. Tudo se interliga,
cara. Essa musica é de 96.

''Faz tempo que a gente não é aquele mesmo par
Faz tempo que o tempo não passa
É só você estar aqui
Até parece que adormeceu
O que era noite já amanheceu

Cadê aquele nosso amor
Naquela noite de verão
Agora a chuva é temporal
E todo céu vai desabar

Éh, até parece que o amor não deu
Até parece que não soube ama..a..a..ar
Você reclama do meu apogeu ( do meu apogeu )
E todo céu vai desaba..a..a..a..a..a..a..ar ( ah, desabou )''