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segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Alavancas

Meia no tapete.
Tapete no frio do chão refletindo um labirinto de azulejos úmidos.
O que será que aconteceu?
Lá do fundo nos fundos com eco no vácuo ressoa só sol, La, si do piano.
Escorrega no chão, equilibra-se com as mãos, volta e se estende: o céu que não vê.
O que será que aconteceu.
Pousa o olhar: bailarinas de gesso querendo se quebrar no ar enquanto a base gira, gira, gira.
Repousa o olhar. Nevoas socorrendo o negro da noite que chega quando fecham os olhos, chuviscos que parecem transições de rádio que não querem parar em lembrança alguma.
O que será que aconteceu?
Tateia as próprias mãos. Seca, pequena? Macia. Seco pode ser áspero?
Tateia a boca: macia, sensível, realmente macia, muito.
A pele toda macia com alguns pontinhos como estrelinhas: o que sente aqui sente ali: enquanto descobre a maciez do rosto percebe a leveza das mãos e o canto dos lábios se abrindo em um sorriso nascente, fazendo uma vírgula. E pede o gosto que os dedos trazem do resto da pele, descobre a maciez da língua.
Pára.