Olha o hoje: ele ainda é escuro e talvez chova cólera nessa madrugada. Talvez você não entenda, mas talvez não seja mesmo pra entender aqui e agora.
As palavras precisam ser vistas como vislumbre do que sentimos. O que passamos é de certo menos que isso. Os únicos que sabem o que se passa são os que desejam passar, cientes de sua única forma de evolução.
Não fiz compreender, eu sei, mas quando não é de repente eu não sei dizer o que é melhor para o entendimento. Então é melhor nem tentar. É?
Eu passei dois séculos procurando alguma coisa que eu achei só pela metade, e a metade não é o que eu quero, por que o que eu sinto não é pela metade. Mas muita gente encontrou em mim metade só e achou que era inteiro - tão inteiro quanto o verdadeiro sentimento. Mas não era e nem nunca será. Não me importo com a importância que todos, achando serem peças de um quebra cabeça.
Me iludo sim, me iludo por que meu inteiro não é meu.
De quem ou aonde serei meu inteiro eu não sei, já tive vislumbres e por isso não estou perdida como parece, batendo cabeça por aí ou tentando ocupar meu tempo com o ócio da arte. Talvez faça isso por que... O ócio dá vazão à arte e sem saída não tenho recursos para procurar. Me sinto presa a estradas, mesas, despertadores.
Sinto-me presa a palavras repetidas, a bocas risonhas, a mesas, a canetas azuis, a fumaça do cigarro, o bafo de cerveja das pessoas, a música caótica sem som, ao tráfego caótico, aos gritos das brigas, as crianças se drogando, as drogas legais, as drogas do mundo banal, a estereótipos, a isqueiros perdidos, a rodas sem freio, a ruas cheias de carros, ao barulho dos carros, aos cavalos presos, aos bois e as vacas, as galinhas, aos peixes, a procura do dinheiro, e política que não se acredita mais e a democracia que não é mais política, aos dados sendo jogados, a cara e o coroa, ao fim dos filmes que não tiveram fim, ao clássico ser clássico, a religião limitada, a descrença, o fanatismo escondido em ambos, ao violão que arrebentei a corda, ao inglês, a língua, o preconceito na mistificação, as pessoas na espera de atendimento nos postos de saúde, aos olhos vermelhos pedindo dinheiro, as tangerinas estragadas, os cupins, os abutres, os sanguessugas, ao bem que é mal e o bom que não é tão mau, ao português acentuado, ao português antigo, ao português, a quantidade do verde, a quantidade do branco, as listras das cadeiras nas praias, ao lixo jogado na rua e a rua jogada ao esgoto, as doenças precárias, a assistência suja, a animais em notas, a promiscuidade escondida, as mentiras meio-verdades e as verdades meio mentiras, as pedras cinzas do meu primeiro colégio, ao balanço de píneo, a comprimidos revestidos azuis, verdes, beges.
Sinto-me presa como uma mosca numa teia, como uma borboleta no arame, como peixes que se debatem na rede, como pássaros na gaiola, como o ferro no imã, como aos presentes só no natal, como ouvidos no carnaval, como chocolates na páscoa, como objetos à objetividade analítica, como o subjetivo à esquerda, como direita aos direitos, como chineses, como iraquianos, como movimentos às sombras, como o Brasil no comodismo, como as idéias nas folhas que ainda não são rascunho, como a metade no inteiro e o inteiro sem metade, como as complexidades às comparações, como a vida no tempo, o sonho no sono, o sono no pesadelo, a vida na morte, a morte na vida, a esperança ao humano, o humano ao mundo e o mundo ao humano.
Sinto-me presa nas contradições, no barulho irritante, no desregrado e no regrado, no frio e no calor.
Sinto-me presa ao dicionário, aos mapas, o tempo, a redundância, a incapacidade, a insônia e a vontade de dormir.
Porque a vida está impregnada e depende disso e o mundo depende de nós. Por que não tenho asas, não posso curar o pior, não posso pensar que não posso e as pessoas também não. A confiança não existe, eu sei, mas a perseverança pode existir na esperança e na igualdade de senso comum, ao menos.
Estou presa por que isso é uma prisão cheia de pessoas que dependem de mim e ao mesmo tempo querendo me matar. Estou presa aos meus sons, gestos, palavras, a vocês.
A liberdade é um sonho que se matou por um ideal... Esse ideal é a nossa liberdade e como a expressamos e o que sentimos.
Não sei quem fez isso e não quero saber enquanto não concertar alguma coisa, aí sim, posso tentar descobrir.
Pinéu.
As palavras precisam ser vistas como vislumbre do que sentimos. O que passamos é de certo menos que isso. Os únicos que sabem o que se passa são os que desejam passar, cientes de sua única forma de evolução.
Não fiz compreender, eu sei, mas quando não é de repente eu não sei dizer o que é melhor para o entendimento. Então é melhor nem tentar. É?
Eu passei dois séculos procurando alguma coisa que eu achei só pela metade, e a metade não é o que eu quero, por que o que eu sinto não é pela metade. Mas muita gente encontrou em mim metade só e achou que era inteiro - tão inteiro quanto o verdadeiro sentimento. Mas não era e nem nunca será. Não me importo com a importância que todos, achando serem peças de um quebra cabeça.
Me iludo sim, me iludo por que meu inteiro não é meu.
De quem ou aonde serei meu inteiro eu não sei, já tive vislumbres e por isso não estou perdida como parece, batendo cabeça por aí ou tentando ocupar meu tempo com o ócio da arte. Talvez faça isso por que... O ócio dá vazão à arte e sem saída não tenho recursos para procurar. Me sinto presa a estradas, mesas, despertadores.
Sinto-me presa a palavras repetidas, a bocas risonhas, a mesas, a canetas azuis, a fumaça do cigarro, o bafo de cerveja das pessoas, a música caótica sem som, ao tráfego caótico, aos gritos das brigas, as crianças se drogando, as drogas legais, as drogas do mundo banal, a estereótipos, a isqueiros perdidos, a rodas sem freio, a ruas cheias de carros, ao barulho dos carros, aos cavalos presos, aos bois e as vacas, as galinhas, aos peixes, a procura do dinheiro, e política que não se acredita mais e a democracia que não é mais política, aos dados sendo jogados, a cara e o coroa, ao fim dos filmes que não tiveram fim, ao clássico ser clássico, a religião limitada, a descrença, o fanatismo escondido em ambos, ao violão que arrebentei a corda, ao inglês, a língua, o preconceito na mistificação, as pessoas na espera de atendimento nos postos de saúde, aos olhos vermelhos pedindo dinheiro, as tangerinas estragadas, os cupins, os abutres, os sanguessugas, ao bem que é mal e o bom que não é tão mau, ao português acentuado, ao português antigo, ao português, a quantidade do verde, a quantidade do branco, as listras das cadeiras nas praias, ao lixo jogado na rua e a rua jogada ao esgoto, as doenças precárias, a assistência suja, a animais em notas, a promiscuidade escondida, as mentiras meio-verdades e as verdades meio mentiras, as pedras cinzas do meu primeiro colégio, ao balanço de píneo, a comprimidos revestidos azuis, verdes, beges.
Sinto-me presa como uma mosca numa teia, como uma borboleta no arame, como peixes que se debatem na rede, como pássaros na gaiola, como o ferro no imã, como aos presentes só no natal, como ouvidos no carnaval, como chocolates na páscoa, como objetos à objetividade analítica, como o subjetivo à esquerda, como direita aos direitos, como chineses, como iraquianos, como movimentos às sombras, como o Brasil no comodismo, como as idéias nas folhas que ainda não são rascunho, como a metade no inteiro e o inteiro sem metade, como as complexidades às comparações, como a vida no tempo, o sonho no sono, o sono no pesadelo, a vida na morte, a morte na vida, a esperança ao humano, o humano ao mundo e o mundo ao humano.
Sinto-me presa nas contradições, no barulho irritante, no desregrado e no regrado, no frio e no calor.
Sinto-me presa ao dicionário, aos mapas, o tempo, a redundância, a incapacidade, a insônia e a vontade de dormir.
Porque a vida está impregnada e depende disso e o mundo depende de nós. Por que não tenho asas, não posso curar o pior, não posso pensar que não posso e as pessoas também não. A confiança não existe, eu sei, mas a perseverança pode existir na esperança e na igualdade de senso comum, ao menos.
Estou presa por que isso é uma prisão cheia de pessoas que dependem de mim e ao mesmo tempo querendo me matar. Estou presa aos meus sons, gestos, palavras, a vocês.
A liberdade é um sonho que se matou por um ideal... Esse ideal é a nossa liberdade e como a expressamos e o que sentimos.
Não sei quem fez isso e não quero saber enquanto não concertar alguma coisa, aí sim, posso tentar descobrir.
Pinéu.