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segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Diário – em diários não tem inicio, desenvolvimento ou conclusão.

Hang up.
Ouvir essa musica de novo é inacreditável, mas é óbvio. Não estou preparada pra ouvi-la, e desligo a luz fluorescente do abajur aqui do lado, quero um escuro que dê pra ver o rosa do céu pelos quadrados de vidro do basculante. É uma coisa imbecil, mas detalhar as coisas faz tudo ficar mais bonito, mais poético. Muita poesia é simplesmente enrolaçao ou o “poeta” usa um monte de palavras já desconhecidas, porém belas até (não todas), usa exageradamente pra fazer um poema consagrado.

O poema consagrado vem de temas consagrados, vem do íntimo do seu ser vagarosamente, a certo ponto ele se descobre, talvez até perdido, mas se encontra em linhas muitas vezes evasivas pras outras pessoas, mas que desabafa. O que desabafa é gostoso de se ver, já basta o cotidiano mascarado da sociedade.. .
Por isso prefiro Hilda Hilst. Por isso tenho paixão profunda por Rubem Fonseca, que tenho certeza, faz poemas belíssimos que ninguém vê e eu queria ter com ele antes de um de nós morrermos, mas acho que ao menos posso ter com ele em muitas palavras, muitas mesmo, por que ele detalha dissecando cientificamente as coisas que ainda estão quentes na sua mente.
Se algo não estiver quente na sua mente, é impossível fazer das palavras reflexos – e mesmo que não queira personificação, originalidade de dizer o que pensa – que o romance seja vívido bastante pra ainda estar presente em mentes depois de se ler.
Poucas coisas são assim, muitas pessoas são assim, muitas pessoas tentam e outras pessoas não fazem parte de absolutamente nada, mas faz ao mesmo tempo em que não fazem juntos.
Que idiotice, mas é o que vem;
A dor na língua, nos lábios a vontade de gritar a dor e nos dedos pecados, pecados mortais que ao menos um dia me abençoarão mesmo tendo me matado todos os dias, basicamente em vão – e o que não é em vão? O que é tão vão? –
Odeio trocadilhos, quero que se dane. No mínimo gosto dos engraçados ridículos, tão ridículos que são escandalosamente engraçados e por isso eles servem, mas na poesia, céus, a repetição de palavras em vários sentidos incessantemente é um grande saco.
Um grande saco são os poemas de amor maior, de paixonite por aqueles lábios, o umbigo macio da mulher, a brancura que é sua morada, vai se fuder, isso é tão fútil quanto os cartões no dia dos namorados, como as massagens estéticas, a drenagem linfática, a lipo, tudo isso, esses poemas estão nesse maldito nível ainda tão vazio, ilusório e estético.
O que eu faço além de querer por dentro? O ser humano é apaixonado pela ilusão ou pela falta das palavras que ele quer ouvir; ele procura, procura, procura. Não adianta, não falarei sobre corpos fortes que beijei , sobre membros rígidos que me fizeram apaixonar, por que isso não existe pra mim, a beleza vem de algo bem distante dos manequins, vem de algo bem mais perto do que a pessoa é ou simplesmente é capaz de ser.
O envolvimento é extremamente casual, mas pra mim qualquer deles tem o mesmo sentido emocional mesmo.
Diário – em diários não tem inicio, desenvolvimento e conclusão.