Havia cheirado com seu amigo tudo que tinha para cheirar naquele dia e mais. Lembrava sua família destruída e a do amigo pobre de alma, pois afinal, fora pobre a vida toda e vivera desta forma e não aparentava querer outra coisa se não uma vida fácil da qual podia roubar quem não, aparentemente, precisava tanto quanto ele achava que precisava ainda. Precisava de alma, recheada de trauma e de um ego preso por sua própria inveja de uma vida feliz.
Afinal, o que é felicidade... se não o que sente por poucos momentos quando se droga, essa felicidade ilusória, alegria denominada de vários aspectos.
Não se lê e não se vê por aí, e se vê não se sabe sentir, pouco entende já que nunca tendo visto acredita apenas que o tangível é o próprio torpor: material morto de sí mesmo que se compra, vende, rouba e prossegue o ego que equivale a vida turva.
Mais um dia como os outros e entre detalhes que já todos conhecemos e alguns sentem a revolta, (outros o próprio fracasso da vida de uma mãe, um pai, um alcoólatra, um drogado) escuta-se o que foi mais um dia e mesmo assim não foi igual a todos os outros.
Chega em um beco escuro para ver todo o material roubado e dentre eles o que mais parecia ser recheado de fonte de dinheiro, não havia mais que livros de um sebo e resquícios de vida de quem vai para outro caminho.
Seu amigo morre e nada sobra, ou talvez no mesmo caso os próprios são roubados ou o próprio amigo lhe rouba, posto que nesta vida nada é real; apenas a certeza das ilusões, a confiança não existe; cai.
Hei, fique com os livros. E se vai. Parado olha aflito, sem drogas, sem felicidade, boca crispada. Não sabe chorar e não quer lembrar-se de nada. Para e vê quem poderia ser e quem poderia, maldito, só lê. O que será, alguém assim, vê graça nisso? Dentro tem dinheiro, não pode ser. E abre, um por um. Nada vê. Pouco entende, e talvez, em uma lenda ele vá ler, só para um texto tornar-se mais belo sobre a sociedade, talvez para uma estória tornar-se melhor, talvez fosse o mínimo e o máximo.
Olhos vermelhos percorrem por palavras e outras que lhe dizem alguma coisa. Talvez. Talvez estejam futuramente em um córrego morto e ensanguentado. Isso divide poucas letras , do pó. Isso divide o próprio interior que descobre-se e o mundo exterior que quer descobrir e acaba morrendo aos poucos.
Um dia, no mesmo córrego, um esgoto estourado e mais uma vida inundada de rancor moram-se ao lado, alguém que um dia ironicamente leu o que devia e fez-se vida o seu morrer constante. E devolveu tudo que fez.
Poderia aqui citar todo o tipo de contravenção boca-boca para a sociedade. "A política prefere", "O mundo está perdido mesmo ", " Bote uma bomba", ou as que demore um monólogo que seja, dentre muitas soluções pouco razoáveis ou muito drásticas entre poucas outras acomodações para serem ditas. Salvem-se quem puder, a crítica acomodada pela arte.
Meio de comunicação infalível para quem sente e faz sentir, quem não pode se salvar, afinal, quem não se salva são eles e quem pode, quem é?
Não somos um, como já foi dito e nada é como se vê, apenas quando conseguimos ver além.
O outro foi morto, era apenas mais um homem novo, morto em bala perdida na comunidade, olha vejam só por que isso não sai no jornal e por que quando outro morre acaba por sair.
Tudo torna-se relativo e mesmo assim o bonitinho ali insiste em dizer que certa massa é injustiçada. E o outro: injustiçado comete injustiça. E violência gera violência. E aonde e onde tudo isso começou nos remete à tanto e pouco, pouco demais para nos convencer que ampara aquelas próprias pessoas. Existe um segundo, apenas, que faça um raio-x do coração?
Meta-me a porrada, alguém que não amo que diz que não me ama.
Deixe-me olhar pros seus olhos enquanto você deixa em mim sua angústia de vida, seu ego que te impele e sua falta de medo.
Enquanto chuta minha costela receio que te faças acreditar nos meus olhos contentes, é comigo que você vai encontrar sua fé.
A fé que não tem em si nem em sua alma.
- Rufino Tamayo,
Tres Personajes, 1970.
A verdade é à força dos braços, a nostalgia da dor e a procura do mundo, se encontrar, o exterior é tudo que nunca vai ser, pois ninguém, no fundo, é essa massa sangrenta e ninguém quer ser. Ninguém poderia, entre a comum vontade, a força interior que hes angustia não ter é a mesma que bate até conseguir tirar pra si. Salvo à regra de quem nos olhos vê-se, lê-se a força, paz e vive, quem não vive além de poucos que escrevem?
“Talvez. “
Talvez esteja à luz do fusco-fusco à ler sobre um mundo novo que não terá ou... alguém...
Talvez. Alguém talvez irá fazer.
Nenhum bom ato é pequeno, nenhuma leitura é inútil;
O bom nunca é tão relativo que não possa sentir.
E o resto é o que não presta, se não, para converter, ler como tragédia, mais uma a se horrorizar a classe média ou rica no jornal. E quem de lá vai dizer que não viu?
E quem vai ler e ver além? E aonde vai parar?
Tudo e nada.
"Defesa essa,
que é vontade de morrer "
Pode levar qualquer coisa e fazer qualquer coisa. Podem levar tudo seu e fazer qualquer coisa. Mas nunca será quem não é e terá amor. Mas nunca levarão o que é e o amor de quem te ama.
(- Carolina.)