Exploded Head, Salvador Dali
Acho que o momento mais atordoante é quando se acorda. Tudo tem que se encaixar, tem que se encaixar. Da onde veio isto e isto e para onde hoje vai parar. Dor na cabeça e banho gelado para o banho gelado de dor de cabeça anterior, como mesmo?
Outro grande momento é contemplar estes momentos. Acho que afinal faz bem sentir que não é o único, aí, que acorda com dor de cabeça e montando o quebra cabeça do mundo, por sinal, nestes mesmos momentos.
Para doses de normalidade como essa, é melhor não ter pressa e com a visão desfocada, deixar para trás o estúpido que deixou o coração por alguns momentos acelerado. Por que agora é estúpido, tanto quanto comer uma barra de chocolate vulgo glicose.
Outro momento interessante de se comentar sobre o próprio estado de contemplação é que, mesmo por pouco tempo, faz o tempo parar. Ele não pára, mas parece o seguinte: parado, você foca seus olhos e lê, vê, o que for. É a beleza do sentimento, normalmente interno-pessoal, que se quer aproximar.
Fica-se tanto tempo naquele mesmo estar, sem desgrudar, pois o que há de melhor do que ver a beleza de não precisar expor, só contemplar?
Começa-se a pensar nas mudanças que o tempo acarreta como a natureza feroz que em dados momentos se traveste de destino e em outros, o acaso, nada mais.
Nada é realmente belo na mudança ou só se vê beleza quem a acolhe, entende e olha, os olhos podem brilhar outra vez, outro dia. O sorriso virá novamente e contemplarão outros, mesmo sentindo este mundo um derradeiro, as mágoas são apenas instáveis, e só. Pois está só e ninguém precisa te lembrar de nada.
E você não precisa se lembrar de nada, o relógio são suas vontades, isso vale para responsabilidades e a chamada alegria.
Devia olhar mais para o relógio e não fingir que olha, não precisa mesmo tentar precisar da vida. A graça é não precisar, a passagem é paga em prestações e é bom continuar. Pois você é dono do seu tempo e as mudanças, elas se encaixam com o que pretende, bem no fundo.
Prefiro perguntar quase afirmando, com um belo sorriso de quem ouve pássaros e arrumando o cabelo com uma mão, pois a outra ocupada
leva a bagagem essencial, corando o rosto:
Tem lugar na janela?
- Rumo à vista e aproveite, pois este é o estado mais interessante de quem, sábio, é capaz, a contemplação.
* Ce sont les mots qui existent,
ce qui n'a pas de nom n'existe pas.
Le mot lumière existe, la lumière n'existe pas. Francis Picabia.
(- Carolina.)