Os prédios altos abafavam seus pensamentos, o vai e vem da cidade confundia o tráfego dos pensamentos camuflados, dos sonhos quebrados, das ilusões e do normal arrependimento da cidade grande.
O grande mundo crescia ao redor de todas as noticias dos jornais, e a confusão que o vai e vem lhe causava era fácil de habitar.
Ela certa vez dissera:
- Vamos para o campo, a vida é mansa.
Não agüentaria viver na vastidão do interior, onde encontraria muito vazio em si mesmo para continuar em paz, sem saber o que fazer, onde esconder-se.
- Isto não é paz, é exclusão – dizia rapidamente.
Acaba realmente se encontrando com as buzinas descontroladas e no desconforto que a poluição exala no dia-dia da cidade grande, as reclamações que retruca e os xingamentos que escuta no trânsito, acaba dependente das propagandas capitalistas e da futilidade prática da tecnologia.
Das noticias matinais no jornal burguês, dos desastres e da calúnia social – mas que diabo, é e somos o sistema, devemos a ele – acaba afagado pela estupidez humana, pelos comentários blasé do elevador e envolvido pelo tempo nublado constante, por não sentir sua própria ausência.
Suas pernas destinadas como o tráfego das ruas, seu mecanismo de não pensar é o mais usual de todos: viver no mundo de drogas artificiais móveis, distintas. Seu mundo é o verdadeiro mundo, não precisa ter vida de verdade, a vida de fato é a capacidade de continuar no próprio destino dos pés e do trabalho onde esconde, onde nada o atinge mais do que a paz de se enxergar.
''São Paulo, 27''
Mondrian |