"Passei o dia vendo cartas antigas, jogando coisas fora, limpando cada canto de cada objeto que pretendo decorar meu quarto... e achei tantos, reciclei tantos.
Nas caixas coloquei as cartinhas, os pedaços de memória e os meus queridos diários: minhas biografias. Alguma frustração em ler aqueles pedaços me faz guardá-los mais no fundo, mas não rasgo, não rasgava-me naquele tempo ué... lembro bem.. (talvez por dentro).
Não sei se perco tempo. Não sei se as coisas vão para seu lugar, assim, naturalmente, sem pensar demais.
Aqui sou evasiva por motivos imbecis, ao menos comigo mesma, ao menos enquanto escrevo sem pensar que um dia vou ler depois.
Não perderia tempo se escrevesse sabendo que um dia irei ler. Outras vezes eu me atrevo a usar minha razão horripilante pra consagrar uma vida decadente de auto-suficiência ilusória.
E eu sei disso, neste mundo nasci dependendo de tudo que eu fizer fisicamente, espacialmente, socialmente: algo que me sustente ao menos pra pagar um óculos pra enxergar, a tinta que eu quero pintar. A natureza não é a solução, a terra que eu piso não é minha, se eu vender meu corpo eu arranjo uma terra, se eu pensar: hei, vou entrar nessa, vou ser mais uma na sociedade a continuar dando voltas cada vez mais longas para o mesmo ponto, reverenciando o que têm ao centro. Eu não concordo pra isso ou com isso. E como eu faço pra não concordar? Ando pelada por aí, isso é revolução?
Hoje em dia a revolução não é como antigamente, a revolução é paga. Temos uma liberdade sim, temos uma liberdade ilusória. Acho que a organização é fruto do companheirismo, compaixão, desenvolvimento. E isso cria organizações políticas, ou o que seja. E quem é qualificado, hoje em dia?
Vi a borboleta em um baú antigo, pintura mineira da época imperial. Amei o baú.
Pensei em vários tipos de posições e coisas para meu quarto, desde o que é usual e o que não é, o que é belo-agradável, o que é usual-desagradável (como duas cômodas.) etc.
Tenho mania de jogar três moedas que devem ser da mesma cor e do mesmo valor. Funciona da seguinte forma: Cara é sim. Coroa é não. Quando dá Cara, cara e coroa é “sim, mas haverá problemas”. Ou “sim, mas é melhor não arriscar”. E coroa, coroa e cara: “Não, espere mais um pouco” ou “Não, pare de jogar essa porra 300 vezes”.
Tenho mania de deixar um pouco de bebida ''pro santo'', seja o que for que eu vá beber, e assim também acontece com comida. Seria uma boa dieta se eu não pensasse que pessoas poderiam comer exatamente aquilo que eu deixei em muita maior quantidade. Mas bebida sim.
Não tenho mania de estalar dedos, apesar de fingir isso quando tenho vergonha.
Tenho mania de lavar as mãos todo momento. Tenho mania absurda de higiene. Acho que fiquei traumatizada quando era pequena e vi no colégio um vídeo sobre bactérias.
Gosto de comer coisas em tigelas grandinhas. Adoro tigelas de porcelana. Adoro taças, gosto de beber qualquer coisa em taça.
Tenho mania de me alongar.
Tenho mania de proatividade, quando me sinto reativa fico reclusa pensando
o quão errado é.
A profundeza as vezes é redundante demais, por isso é bom só pintar e pintar.
talvez junho, talvez julho, mas do meu diário de 2008;
John Everett Millais - Bubbles (aka that Pears Soap) |