terça-feira, 14 de outubro de 2008
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
pinéu
As palavras precisam ser vistas como vislumbre do que sentimos. O que passamos é de certo menos que isso. Os únicos que sabem o que se passa são os que desejam passar, cientes de sua única forma de evolução.
Não fiz compreender, eu sei, mas quando não é de repente eu não sei dizer o que é melhor para o entendimento. Então é melhor nem tentar. É?
Eu passei dois séculos procurando alguma coisa que eu achei só pela metade, e a metade não é o que eu quero, por que o que eu sinto não é pela metade. Mas muita gente encontrou em mim metade só e achou que era inteiro - tão inteiro quanto o verdadeiro sentimento. Mas não era e nem nunca será. Não me importo com a importância que todos, achando serem peças de um quebra cabeça.
Me iludo sim, me iludo por que meu inteiro não é meu.
De quem ou aonde serei meu inteiro eu não sei, já tive vislumbres e por isso não estou perdida como parece, batendo cabeça por aí ou tentando ocupar meu tempo com o ócio da arte. Talvez faça isso por que... O ócio dá vazão à arte e sem saída não tenho recursos para procurar. Me sinto presa a estradas, mesas, despertadores.
Sinto-me presa a palavras repetidas, a bocas risonhas, a mesas, a canetas azuis, a fumaça do cigarro, o bafo de cerveja das pessoas, a música caótica sem som, ao tráfego caótico, aos gritos das brigas, as crianças se drogando, as drogas legais, as drogas do mundo banal, a estereótipos, a isqueiros perdidos, a rodas sem freio, a ruas cheias de carros, ao barulho dos carros, aos cavalos presos, aos bois e as vacas, as galinhas, aos peixes, a procura do dinheiro, e política que não se acredita mais e a democracia que não é mais política, aos dados sendo jogados, a cara e o coroa, ao fim dos filmes que não tiveram fim, ao clássico ser clássico, a religião limitada, a descrença, o fanatismo escondido em ambos, ao violão que arrebentei a corda, ao inglês, a língua, o preconceito na mistificação, as pessoas na espera de atendimento nos postos de saúde, aos olhos vermelhos pedindo dinheiro, as tangerinas estragadas, os cupins, os abutres, os sanguessugas, ao bem que é mal e o bom que não é tão mau, ao português acentuado, ao português antigo, ao português, a quantidade do verde, a quantidade do branco, as listras das cadeiras nas praias, ao lixo jogado na rua e a rua jogada ao esgoto, as doenças precárias, a assistência suja, a animais em notas, a promiscuidade escondida, as mentiras meio-verdades e as verdades meio mentiras, as pedras cinzas do meu primeiro colégio, ao balanço de píneo, a comprimidos revestidos azuis, verdes, beges.
Sinto-me presa como uma mosca numa teia, como uma borboleta no arame, como peixes que se debatem na rede, como pássaros na gaiola, como o ferro no imã, como aos presentes só no natal, como ouvidos no carnaval, como chocolates na páscoa, como objetos à objetividade analítica, como o subjetivo à esquerda, como direita aos direitos, como chineses, como iraquianos, como movimentos às sombras, como o Brasil no comodismo, como as idéias nas folhas que ainda não são rascunho, como a metade no inteiro e o inteiro sem metade, como as complexidades às comparações, como a vida no tempo, o sonho no sono, o sono no pesadelo, a vida na morte, a morte na vida, a esperança ao humano, o humano ao mundo e o mundo ao humano.
Sinto-me presa nas contradições, no barulho irritante, no desregrado e no regrado, no frio e no calor.
Sinto-me presa ao dicionário, aos mapas, o tempo, a redundância, a incapacidade, a insônia e a vontade de dormir.
Porque a vida está impregnada e depende disso e o mundo depende de nós. Por que não tenho asas, não posso curar o pior, não posso pensar que não posso e as pessoas também não. A confiança não existe, eu sei, mas a perseverança pode existir na esperança e na igualdade de senso comum, ao menos.
Estou presa por que isso é uma prisão cheia de pessoas que dependem de mim e ao mesmo tempo querendo me matar. Estou presa aos meus sons, gestos, palavras, a vocês.
A liberdade é um sonho que se matou por um ideal... Esse ideal é a nossa liberdade e como a expressamos e o que sentimos.
Não sei quem fez isso e não quero saber enquanto não concertar alguma coisa, aí sim, posso tentar descobrir.
Pinéu.
Diário – em diários não tem inicio, desenvolvimento ou conclusão.
Ouvir essa musica de novo é inacreditável, mas é óbvio. Não estou preparada pra ouvi-la, e desligo a luz fluorescente do abajur aqui do lado, quero um escuro que dê pra ver o rosa do céu pelos quadrados de vidro do basculante. É uma coisa imbecil, mas detalhar as coisas faz tudo ficar mais bonito, mais poético. Muita poesia é simplesmente enrolaçao ou o “poeta” usa um monte de palavras já desconhecidas, porém belas até (não todas), usa exageradamente pra fazer um poema consagrado.
O poema consagrado vem de temas consagrados, vem do íntimo do seu ser vagarosamente, a certo ponto ele se descobre, talvez até perdido, mas se encontra em linhas muitas vezes evasivas pras outras pessoas, mas que desabafa. O que desabafa é gostoso de se ver, já basta o cotidiano mascarado da sociedade.. .
Por isso prefiro Hilda Hilst. Por isso tenho paixão profunda por Rubem Fonseca, que tenho certeza, faz poemas belíssimos que ninguém vê e eu queria ter com ele antes de um de nós morrermos, mas acho que ao menos posso ter com ele em muitas palavras, muitas mesmo, por que ele detalha dissecando cientificamente as coisas que ainda estão quentes na sua mente.
Se algo não estiver quente na sua mente, é impossível fazer das palavras reflexos – e mesmo que não queira personificação, originalidade de dizer o que pensa – que o romance seja vívido bastante pra ainda estar presente em mentes depois de se ler.
Poucas coisas são assim, muitas pessoas são assim, muitas pessoas tentam e outras pessoas não fazem parte de absolutamente nada, mas faz ao mesmo tempo em que não fazem juntos.
Que idiotice, mas é o que vem;
A dor na língua, nos lábios a vontade de gritar a dor e nos dedos pecados, pecados mortais que ao menos um dia me abençoarão mesmo tendo me matado todos os dias, basicamente em vão – e o que não é em vão? O que é tão vão? –
Odeio trocadilhos, quero que se dane. No mínimo gosto dos engraçados ridículos, tão ridículos que são escandalosamente engraçados e por isso eles servem, mas na poesia, céus, a repetição de palavras em vários sentidos incessantemente é um grande saco.
Um grande saco são os poemas de amor maior, de paixonite por aqueles lábios, o umbigo macio da mulher, a brancura que é sua morada, vai se fuder, isso é tão fútil quanto os cartões no dia dos namorados, como as massagens estéticas, a drenagem linfática, a lipo, tudo isso, esses poemas estão nesse maldito nível ainda tão vazio, ilusório e estético.
O que eu faço além de querer por dentro? O ser humano é apaixonado pela ilusão ou pela falta das palavras que ele quer ouvir; ele procura, procura, procura. Não adianta, não falarei sobre corpos fortes que beijei , sobre membros rígidos que me fizeram apaixonar, por que isso não existe pra mim, a beleza vem de algo bem distante dos manequins, vem de algo bem mais perto do que a pessoa é ou simplesmente é capaz de ser.
O envolvimento é extremamente casual, mas pra mim qualquer deles tem o mesmo sentido emocional mesmo.
Diário – em diários não tem inicio, desenvolvimento e conclusão.
“Puscifer – Rev 22:20 (Dry Martini mix)”
Fico com dois cobertores grandes.
Um beijo de bom dia e agora me lembro um abraço de verdade, um sacrifício por alguém, um sorriso talvez um pouco forçado, mas palavras sinceras.
Negava a mim mesma que esperava o tempo passar enquanto respirava outra respiração que me abraçava com seus braços, com seu rosto; e eu disse: “não consigo dormir com as pessoas”. Fui para um cantinho depois de fingir que era uma presa acuada em seus braços. Consegui dormir, o efeito das lembranças foi anulado pela lembrança dos efeitos. Acordo a todo o momento. Terminamos o que começamos e é terno quando me arrumo acariciando sua alma, ouvindo que ali está ótimo, sentindo um espírito repousar em meus braços, como presa acuada, mas sem a parte da respiração tão perto, faço carinho como quem faz em um filho. Penso em palavras doces como quem relembra o amor e caio de novo, depois de beijar-lhe a testa.
Não gosto das janelas juntas, dos prédios colados, dos olhares constantes como se fossem dizer algo que me fará pensar se estou sendo mal educada por não responder aquelas suas perguntas silenciosas. Sinto-me um monstro das suas formas, e sou afinal. Continuar a andar é mais falta de educação ainda, exatamente por que a educação é minha vontade de ser condescendente com seres humanos. É tão óbvio que soa agressivo às vezes. É agressivo preocupar-se descaradamente, ou é estranho hoje em dia.
Não gosto das ruas cheias de Copacabana, daqueles prédios insossos. Gosto de alguns trabalhadores que de fato não são de lá, simpáticos. Os trabalhadores quase sempre são simpáticos, não sei explicar por quê são muito mais que os moradores esnobes. Não é regra, nada é regra, NÃO ME PROCESSE. Enfim, odeio Copacabana e suas ruas insossas e seus prédios vazios.
A praia salva e espero que sempre o faça. As ondas batiam revoltadas, refletindo o céu, confundindo o horizonte, guache azul claro, branco e mais branco, em movimento eu via: era a praia, era o céu, uma redoma de suspiros que ainda não foram para o forno.
O ônibus cheio, a correnteza do mundo e meu olhar fixado nas águas profundas, gélidas, e se caíssemos, não morreria, convivo com o frio, mordo os lábios, escuto o ônibus cochichar, sou um monstro.
Antes de ir a despedida foi fugidia, quis apenas ficar e esperar os ônibus imbecis virem todos ao mesmo tempo, exatamente, pra quem quisesse pegar o que estava atrás dos três parados, perderem a viajem e esperar mais tempo. Não gosto de Copacabana e também não ia sentar no assento infeliz da espera do ônibus, como não sento em lugar algum. Parada em pé, não esbravejo o fogo das entranhas, peço fogo, sou um monstro bom, mas ainda sim um monstro.
Pedem-me que não suma. Eu me peço para sumir, sempre que não posso com todo o visual esdrúxulo da jovialidade, sua carência e confusão sexual, sua decadência humanista e orgulhosa burrice.
Estou com meias três quartos, esperando um ônibus, de preto e branco, sou uma mancha negra do espaço negro que nos mostra suspiros inacabados, sou real. “Amor branco e preto”. – “...Por que será que eu gosto de sofrer, saber que agora eu dei para masoquista...”.
Lembro daqueles olhos grandes me olhando e seu interrogatório sem corpo, aonde, com quem e me sinto mal.
Lembro-me antes da castidade, aquela, vivida fielmente e meu pensamento fora talvez em vão. Não quero lembrar mais de outra coisa que não seja vontade, mas não conseguiria, enfim, sair e viver como o contrário tão absurdo do que acredito.
O amor existe, é pesado, mais pesado que qualquer sacanagem, quem sabe, sabe.
Difícil.
Prossigo com meus pesadelos, mas hoje acabo por ter algo mais brilhante que os pesadelos normais, talvez por me disse: Bons sonhos. Mas não deixei de ter um pesadelo.
Encontrava aquele que é meu “abismo de rosas”, aquele que eu perco todos os sentidos, completamente e não consigo explicar, não consigo analisar nada com ele, e é malvado, é meu inferno, meu paraíso, um poema assim que seria o amor – seria o que eu tenho raiva, o que não admito e admito pra explicar a mim mesma por que meus olhos são o mesmo abismo. São dele, para sempre dele e isso é tão meu que ninguém sabe, é minha parte desnuda, completamente e se eu parar pra analisar a mim mesma com a mesma intensidade cairei naquele abismo onde tudo é negro, não possuo mais nada em mim para ter controle e voltar atrás, todas as vezes que voltei, mostrei sangue e fui estúpida. Hoje me vejo mais madura – amanhã me verei uma antes burra. É justo, como disse aquele que já sofri, e sofri mais pelo mundo e menos por ele: “Muda-se, e espera-se mudar sempre para melhor”.
Enfim, encontrava por acaso aquele que me quebrou os ossos e eu os aparafusei novamente depois de uns anos de estudo literário, estudo espiritual, estudo científico. Todo esse estudo pareceu servir pra algo, rimos juntos e ele parecia apaixonar-se mais ainda, novamente. Ele viu o ouro que usei no cartaz enorme que fiz pra ele, falando do meu amor. Ele viu as fotos que havia pendurado dele, e eu queria até tirar, mas explanava a mim mesma, pois era meu lar, não tinha jeito. Ele perguntou: essa cor, essa. Qual? Essa primária, o ouro, como você a encontrou? –
- Usei para fazer aquele cartaz para você e mesmo rasgado ainda é ouro e está aqui. – Ele abaixa os olhos, eu abaixo o meu olhar já cego, não vejo seu sorriso, não tenho expectativas, esse é meu vago, a falta de sonhar dos momentos mútuos.
Passa o tempo, rimos juntos, minha casa tem uma mesa e duas cadeiras, parece uma praça. Um dia volto nela e ele está lá, havia pegado os restos de ouro e transformado a cadeira em um balanço, preso junto à mesa que também balançava, ele dizia: vamos lá. E fomos, sem sentir que sorria, dei um sorriso verdadeiro.
Bem, resto do sonho meu pai quebrava tudo, eu ficava muito nervosa.
Diário.
Alavancas
Tapete no frio do chão refletindo um labirinto de azulejos úmidos.
O que será que aconteceu?
Lá do fundo nos fundos com eco no vácuo ressoa só sol, La, si do piano.
Escorrega no chão, equilibra-se com as mãos, volta e se estende: o céu que não vê.
O que será que aconteceu.
Pousa o olhar: bailarinas de gesso querendo se quebrar no ar enquanto a base gira, gira, gira.
Repousa o olhar. Nevoas socorrendo o negro da noite que chega quando fecham os olhos, chuviscos que parecem transições de rádio que não querem parar em lembrança alguma.
O que será que aconteceu?
Tateia as próprias mãos. Seca, pequena? Macia. Seco pode ser áspero?
Tateia a boca: macia, sensível, realmente macia, muito.
A pele toda macia com alguns pontinhos como estrelinhas: o que sente aqui sente ali: enquanto descobre a maciez do rosto percebe a leveza das mãos e o canto dos lábios se abrindo em um sorriso nascente, fazendo uma vírgula. E pede o gosto que os dedos trazem do resto da pele, descobre a maciez da língua.
Pára.
Bla.
Ainda é muito cedo do dia 28, ele não surgiu no horizonte em forma de mancha com milhões de raios luminosos criando vida, criando movimento. Ainda é a madrugada que escrevo pensativa, que acabo me desabafar do meu jeito; as angústias que não consigo falar a mim mesma, a vontade que prendo pra não precisar sofrer pelos motivos que dentro de mim brigam. "
Diário, junho, julho, 2008.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Invernal
íris
Permanecera tanto tempo apenas junto aos meus olhos, como se quisesse passar uma mensagem, como se passasse aos poucos todas elas, e tão rápido como as asas de um beija-flor, tão suaves como tudo ao seu redor envolvendo emissões, não pude balbuciar, e minha alma voou junto a ele, como final feliz.
domingo, 16 de março de 2008
Estilo Poetinha.
- "Estilo poetinha: Quando era apresentado à uma mulher logo a pegava, pois esta não resistia: Fulana, este é o poetinha. E o resto Deus os acuda. " J.I.
1ª voz. "- Eu, filho do carbono e do amoníaco, monstro de escuridão e rutilância, sofro desde a epigêneses da infância a influência má dos signos do zodíaco. Profundíssimamente hipocondríaco, sobe-me à boca uma ânsia, análoga à ânsia que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme – este operário das ruínas – que o sangue podre das carnificinas come, e à vida em geral declara guerra, anda a espreitar meus olhos para roê-los. E há de deixar-me apenas aos cabelos, na frialdade inorgânica da terra!"
2ª voz - "A idéia! "
1ª voz - “De onde ela vem? De que matéria bruta vem essa luz que sobre as nebulosas caio de incógnitas criptas misteriosas como as estalactites duma gruta?!... "
2ª voz -“ Vem da psicogenética e alta luta. "
1ª voz - - “Do feixe de moléculas nervosas, que em desintegrações maravilhosas, delibera, e depois quer e executa!”
2ª voz - “Vem do encéfalo absconso que a constringe,...”
1ª voz - “Chega em seguida às cordas do laringe,...
... TÍSICA, TÊNUE, MÍNIMA, raquítica. - Olhar -
Quebra a força centrípeta que a amarrra. Mas, de repente, e quase morta, esbarra no mulambo da língua paralítica.”
- Augusto é realmente bom.
Ela fitava desta vez com seus “olhos fundos que trazem tanta dor”, o mais puro lírio dos anjos que logo pousava novamente em meus lábios.
- Ponha ferro em seu poema, ou como os mais velhos, antigos chamam: “prego”.
Não seria egoísta, como ela, de fazer apenas uma crônica com tudo aquilo, ou qualquer coisa que seja tão pouco para o turbilhão que agora sinto. Todas essas emoções e sentimentos que me invadem a alma serão passados abençoadamente pela minha velha máquina de escrever. Nem que em uma palavra só, várias vezes citada, a fim do entendimento do que quero dizer, certamente em vão.
Minha alma esta que brota agora na aurora deste calor, antes mendiga dos jardins da desilusão.
- Não acreditas mesmo em poetas?
- Mas é claro, não acredito em românticos. Por mais que em minha alma sensível existam paradoxalmente tantos ditos românticos, não acredito em nada disso. Mas em poema, é claro, eu acredito.
Antes não queria mais falar sobre coisas estúpidas como o amor, fiz um tratado comigo mesmo de falar apenas assuntos pertinentes à elevação da alma. Mas que diabo.
“E me beija com a boca de hortelã, todo dia eu só penso em poder parar. Diz que está muito louca para beijar e sorrir um sorriso pontual...”
- Não fora só dois anos. E tenho essa mania de abrir os olhos. Mas não sempre.
Não queria seqüestrar sua paz verdejante e derradeira, mas por que tens que ser ferida pela noite entre os pesares de ser amada e os odores doces? Clama dentro da madrugada algum corpo, enclausurado pela necessidade de seres amada. Esta mulher no máximo do barro e da carne, entre costelas e constelações, eis que inupta de tuas entranhas a poeira da intermitente ânsia do desejo, das lágrimas que derramaste no sacrifício, na ultima estocada na ilharga fez-se a laguna de teus olhos, o objeto de teu corpo em chama que transcende a compreensão humana.
Mordo-a, sinto seu gosto. Seu cheiro de moça, seu sorriso singelo.
- Acho que o conheci em outra vida.
- Vês como estou atrasado?
Tenho dois prazeres: O de beijar e o de olhar seus olhos.
Tenho a paz agora para um sono tranqüilo e quando partir não quero aqueles olhos vermelhos do pesar, só a lembrança boa do passado, que nunca mais será passado, tendo a dor súbita da paixão. Admiração de algum acontecimento. E que façam da data uma festa de revolta onde possam expressar todos os anseios de luta ganha. Quando eu partir para o destino inesperado das moças fracas e dos rapazes enfermiços e estéreis, não bancarei residência entre seus socavões. Também não dormirei, confesso. Nem me alimentarei, muito menos beberei do mel que jorra pelas calçadas de lantejoulas.
Mas a possibilidade do amor, de um amor volátil, não será agora, indiferente, pois a chuva não usa mais a linguagem dos corações vazios.
- Eu gosto de Bandeira demais.
- Já Drummond é diferente.
- Se tivesse de ficar em uma ilha deserta, levaria Bandeira.
- E morreria com Drummond, depois de umas semanas.
- Se levasse Drummond, acabaria por construir uma cidade. E Augusto dos Anjos?
- Certamente não morreria naturalmente, e sim, me mataria mesmo. – Sua risada é um gosto macio e apaixonado.
- Quintana ficaria tranquilamente!
- Provavelmente riria, todo o tempo, e se acaso um barco passasse perguntando o por quê da graça, certamente nem o veria, só riria.
- Mas com Augusto dos Anjos realmente é um fato que me mataria!
- Já poetinha, ah poetinha...
Participação no diálogo:
Poemas:
“A chuva”, “Elegia a mulher amada” e “A partida” de José Idernandes.
Augusto dos anjos: “A idéia” e “A psicologia de um vencido”.
Fundo musical:
Chico Buarque.
Foto:
André Coutinho.
quarta-feira, 12 de março de 2008
Carta em processo.
Querido amigo.
Silvio “Land Rover” (você saberia pronunciar melhor que eu, mas não me diga isso) ou Silvio Pereira como é chamado (sim, o ex- secretario geral do PT), em troca de se livrar do processo do mensalão, vai prestar mais de 700 horas de serviço comunitário. Realmente terrível? Nossa. Tomando um uísque, claramente diferente das doses da que costumo tomar (seria um Black Label no mínimo o que ele toma meu caro?) ele confessou o seu super sonho de ter “Jipão”, sim, um jipe. Ele ganhou um jipe verde da Petrobras – sei lá como, vamos um dia ler o jornal tomando um bom café da manhã – e por isso seu apelido, apelidinho, quase apelo. A questão é que ele acha clichê o erro da caixa dois, afinal – em suas palavras - todos os partidos políticos já fizeram uso do mesmo (Interessante ponto de vista). Você não acredita nem nisso nem naquilo: nossa imparcialidade é simplesmente desconfiar.
Mas queria falar algo mais específico. Pelo nosso Rio de Janeiro as obras do PAC começam com festejos, alguns problemáticos, outros com vista VIP. Somos cariocas daqueles que sabem que tudo que começa assim, promete isso, isso e isso não é isso nem aquilo, “quando a esmola é muita...” etc. e tal. Mas além de cariocas, somos Brasileiros, e como brasileiros achamos que a PAC vai mudar alguma coisa, imagine você rocinha com belas ruelas e fora da dengue, manguinhos e outras obras – “as nossa Favelas ruas belas”. Com letra maiúscula, virará um bairro, tão logo, por que turístico já é. Só não me faça crer que Apacs um dia não as deixarão serem tombadas, quando o Rio tiver carros voando a 2 metros (e) ou vivermos à lá Os Jacksons. Menos, menos. Mas que diabo, Cesar Maia me inspira. E ele ainda me perde contra o Superior Tribunal de Justiça, que quer tirar a proteção que Cesar deu a mais de 400 imóveis, por serem ambientes culturais e características nossas, além do mercado imobiliário poder investir em outras regiões com terrenos disponíveis tipo São Cristovão ou Méier. Mesmo protegendo prédios da década de 50 e todas essas coisas belas (que agora irão?) eles não revisaram projetos de estruturação urbana (como o do Leblon, vulgo “PEU”). De qualquer forma essa briga começou em 2003 quando uma associação de pequenos prédios pediu que acabassem as Apacs, com uma desculpa irrelevante demais, o que é claro que nos faz ver que é mutreta com a indústria de construção Civil, vulgo grande bosta que faz arranha céu.
Enfim, não quero confundir nomes e nem fazer mais delongas sobre tal aspecto (mas espere mais), então voltando ao assunto sobre a APAC. Como a APAC é um “programa de aceleração do crescimento” e já muito planejado em 2007( diz-se), realmente não dá para não sentir certo contentamento desconcertante.
Pois afinal: Brasil que é Brasil não começa nada devagar e por isso nada anda como devia. (Preciso de um café, talvez). Por que se o orçamento Geral da União não for aprovado logo pelo Congresso Nacional, travará as obras do PAC. Achei até centrista: viabilizar a necessidade de resultado concreto nas obras que o País precisa (e para isso liberar a graça para as obras, por meio de medidas provisórias vulgo jornalístico e político e etc. e tal como: “MPs”) e ao mesmo tempo o respeito dos processos no Congresso.
Como não poderia deixar de ser, a mamãe-PAC Dima Roussef, (ministra da Casa Civil) foi quem avaliou este processo “cada vez mais complicado”. A eficiência do projeto: Mulher. Lula disse: Mãe PAC. E fez-se uma linda cena. Mas bem, se não for aprovado, dá para mandar as famosas e repetidas “medidas provisórias”. É meio que impossível (e quem acredita em conspirações concordará e verá algo de estranho) que obras esperadas e necessárias parem por conta de orçamento não aprovado. As obras se estendem na rocinha, complexo de manguinhos e outras que não estão ocorrendo (ainda, por que tudo é ainda). Caso continuar nessa estagnação, toma-se uma providência. (Antonio Prata diria: “ Providência é de Direita.”) pela área técnica do governo que foi redigida uma MP abrindo um credito de 2,3b. para as obras do PAC, no caso do Congresso não aprovar o projeto de lei do orçamento. E que coisa bela, quase democrática: O governo vem usando 4bilhoês que estavam direcionados a pagar os restos do orçamento do PAC do ano passado em recursos. Secretario estadual de segurança publica desabafou que o estado não tem dinheiro para financiar por dois anos as operações policiais nas favelas e nem sabe por quanto tempo o governo estadual pode manter a ocupação, “tudo depende da ajuda federal...”. Sem segurança para os trabalhadores nada feito, certo? Ou: “Ainda não...”. E já vem causando tanto transtorno essas idéias... A verdade é que a união e comprometimento é preciso, em dinheiro e não só em Festa do começo da PAC. Tudo que começa se estende, ou deve-se. E tudo aqui se deve, se não, essa festa durará o tempo que pode piorar as coisas. Mas vamos lá, nada vai piorar e Lula é amigo de dedinho do papai Noel. “Tudo é para ser feito dentro do cronograma”, diz o Coelho da Páscoa.
Mas como fazemos parte da história, olha algo que bem mais tarde, mais tarde mesmo, ficará nela: "A Declaração de Santo Domingo": Foi “encerrada” (tensão, super tensão) a crise diplomática entre Colômbia e Equador (com aperto de mão e tudo (e nada precisamos comentar sobre qualquer briga que antecede.) na sexta feira, dia 6 de março, em Santo Domingo.
A questão interessante é que eles, colombianos, pediram desculpas. Simplesmente. “Desculpa aí, nação irmã.”. E a nação irmã não pediu desculpas por dar guarida a Farc, inimiga cruel (já dizia Betancourt e mais 700 seqüestrados) da Colômbia. Simples assim?
Solidariedade da parte Venezuelana (Apresentando nosso querido amigo Hugo Chávez que se refere à Farc como: “Heróis latino-americanos”).
E como não poderia faltar, nosso também muito estimado Bush (que agora usa sandálias PLOC) colabora com o presidente Colombiano, Alvaro Uribe.
“Não são revolucionários, são bandidos com disfarce ideológico” disse Ruy Fabiano, e disseram outras pessoas também, e outras. E escuta-se a voz deles? Haverá outros meios de serem escutados. A Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia),é algo tão pessoal, tão pessoal, que não poderia ser descrito, talvez por Manuel Marulanda (líder das Farc). Eles são de extrema esquerda, agora fazem ações criminosas como forma de conseguir o poder político.
E nós, Brasileiros, ficamos de mediadores, mais ou menos em cima do muro, mais ou menos alguma coisa, como uma mamãe. Mas não é lindo isso? É convincente, por que todos nós somos. Nem um pouco e nem me permito ironizar, tudo que já aconteceu na fronteira brasileira nunca teve uma repercussão do mesmo tamanho que a do conflito entre Equador e a Colômbia.
Iemanjá.
A saraiva comprou a Siciliano e já era hora, acho que todos nós freqüentadores do NY (puta americanização e o que não é Parte2) já havíamos pensado nisso. Até por que na Siciliano é tenso a questão das escadas-vão-ver-sua-calcinha. Mas isso não é nada: "Eu digo à mulher que seu rosto é uma grande experiência para mim e que suas mãos são minha alma - Qualquer coisa para ela abaixar a calcinha.", como Bukowski disse. Então como será? Saraiva terá escadas. Mas ainda sim, aqui ninguém é estrela americana para andar sem calcinha. No máximo tapa-sexo (vulgo arte minimalista brasileira).
Como sempre, ainda verá o Centro como é, lindíssimo noite e dia e horrível noite e dia. Por que afinal, qualquer notícia que vemos é paradoxal demais perante o que enxergamos: Mas essas e outras especulações nunca irão tornar-se relativas a ponto de sumirem nos becos do Rio. A imparcialidade sempre foi seu maior mistério mesmo meu amigo.
quinta-feira, 6 de março de 2008
Azul Marinho
Rosto retocado de sono faz lembrar-se da crônica de Xico Sá e as mulheres quando acordam. O espelho morre em poesia angustiada por pouco tempo, enquanto o feixe de luz vem da janela esfregar seus olhos. Mais um dia, corta o céu nublado com sua pele branca, ainda do avesso.
Acaba por inocentar o dia, assim mesmo sem música, árido. Sente calafrios percorrerem a espinha, ou a alma (quando a espinha torna-se clichê). Pois hoje não se permite, se sente. Como as grades que pusessem na sua própria vida fossem agora tormento e prenúncio de morte.
É. Vida que corre.
Analisa-se o gélido prenuncio é de decorrente ilusão.
Novamente o plano vertical sem fundo em que se remete, se mete, dissolve e é sonho. Chateação.
Seus versos acabaram mudos e os risos abafaram-se com o vento. Sua verdade agora é tão brilhante quanto seu rosto retocado de sono, em que seus mesmos olhos frios recriam o mundo (assim como se transbordasse formas e fórmulas) em que tudo lá fora agora é azul marinho e faz isto repetindo as mesmas palavras em ordens distintas, pois afinal, desordenado se fez mais uma linha sem laço: o destino (ou mais um caminho infiel que se descreve).
E assim prepara o corpo e a alma, o dia e o mundo. E quando as grades se dilaceram pela fera desencontrada, finde mais um dia, não mais em particular.
Mas logo logo começa por inocentar o dia. E Tudo agora é azul marinho.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Conversando
Mas a questão é que estava a pensar seriamente sobre clair de lune e vidas passadas quando me bateu uma vontade imensa de praticar a arte de fazer uma crônica - Algo dificílimo já que nunca se sabe quando realmente fez uma.
Normalmente até na falta de assunto se faz uma crônica, pois, aliás, detalhes escondidos é que fazem as crônicas. Como Rubem Braga era brilhante mesmo sem assunto, alguns outros são ainda mais com assuntos pessoais (Arnaldo, Clarisse).
Confesso que o presente que mais adoro receber é livro, qualquer livro de crônicas. E confesso também que contos valem nesse meio, pois remetem ao mesmo ponto: idealizando uma época, ou denunciando, tudo nas entrelinhas.
Confesso também, algo meio óbvio em minha pessoa, que adoro o quente do escrito. O que é o quente do escrito? Alguns pensariam algo com relação a crônicas apimentadas, contos safados, ou aqueles que conheçam mais: tons mais sarcásticos.
Retruco então: vale tudo que tenha dom característico. Mas o quente do escrito é o que não se reavalia trocentas vezes depois de ser feito, o que não se relê a fim de mudar frases, colocar em outras partes, acrescentar isso ou aquilo que poderia isso ou aquilo para melhorar isso ou aquilo. Eu gosto é do quente do escrito. Originalidade, e isso não passa despercebido para os bons olhos analíticos, ou escreve por gostar ou gosta de escrever, ali e aqui, melhorar alguma coisa por isso e aquilo. Mas não serei sórdida: gostar de escrever é um dom, que também não passa despercebido, até por que, pega-se domínio pela escrita depois de um tempo, e essa é uma outra questão.
O domínio maior da escrita é quando conseguimos passar o que queremos? Acredito que não. Como uma pintura; cada um vê de uma forma, é meio impossível todos verem o que você quis passar, e isso até que é bom demais da conta, em muitos casos. No caso de fazer romance; no caso de ser canalha; no caso de um bom irônico (os três se enquadram em um só, acredite.) .
Fui pressionada emocionalmente muitas vezes, portanto acho que está na hora de falar algo pessoal sem que seja nas entrelinhas como de praxe, e isso eu ia colocar depois do texto a seguir, pois eu lembrei do por quê estaria contando o que estarei a contar, mas vi que seria meio redundante, meio bobo, como já está sendo, mas vamos lá, agora é minha parte "escrita quente" retocando.
Meu caso com a escrita vem de muito tempo, desde que aprendi a escrever. Começou escrevendo meu nome várias vezes, várias e várias, a fim de fazer um poema. O poema Carolina se estendeu por pouco tempo, até que veio outros, com lata (primeira palavra que aprendi) e outras, pois minha mãe me ensinou coisas antes que eu entrasse no colégio, e coisas em inglês também, mas isso que se dane por enquanto.
Então, era uma vez um diário: Tirando detalhes corriqueiros (um deles que eu ainda os tenho até hoje), fazia poemetos subjetivos, e assim foi sempre, assim como desenhar. Tentava até uma linguagem denotativa, mas o conotativo sempre tomou conta das linhas, em "desalento" e isso era um problema nas provas de redação. Bom, a melhor amiga da sala de aula fez um diário também, e trocávamos, e ela escrevia no meu e eu no dela, e isso acontecia até os 16 anos: já outras amigas, já outros diários, já outros assuntos, já outros poemas. E em várias épocas meus poemas eram dados na sala para serem copiados e entregues à namorados, ou para elas proprias sonharem.
Uns amigos aos 14 me pediam para escrever poemas para as sua queridas, até um dizer que na verdade estava apaixonado pela autora. Várias pessoas foram vítimas dos meus poemas sem saber, mas acredito sempre que foi na boa intenção, até começar a acreditar que podia ajudar as pessoas a fazer poemas, e esse foi meu grande pulo. Acho que a parte meio caótica era o melhor amigo que me mandava poema, ou o namoradinho, ou o outro namoradinho: analisar os poemas e pensar, " é... ele tentou, talvez tenha sido de coração?". Sempre acreditei que quem gostava, escrevia o quanto quisesse. E olhando para qualquer poema, acredito que não era tão realmente belo, pois hoje em dia não vejo tanta beleza em poema, em rima, e aquilo era infância, tudo era "grandiosamente profundo" para nós. E foi indo, nessa de " de repente, não mais que de repente..." e meu caso também com a leitura jovial clássica poética (ou não), tal que não era, definitivamente crônicas. Mas talvez isso eu conte outrora.
Hoje em dia, existem mais coisas além das rimas, da luz dos olhos, da dor desenfreada que no fundo era "bonitinho", dos minutos que duram o beijo e da música que escutamos enquanto ele rola, e até da bruma.
Hoje em dia existem mais coisas além de paixão, até por que, para mim, a paixão hoje em dia não me pega, pegava antes pela pouca resistência que tínhamos: éramos pequenos, tudo era "grandiosamente profundo".
Quando repetimos coisas em crônicas, enfatizamos idéias que vagam por nossa mente ou vagaram constantemente. Essa é uma crônica explicativa parcial da minha vida, talvez, ou, talvez não. Lembro então, começo de um diário: "Amar o perdido, deixa confundido, este coração..." . E de ir indo, assim foi.
Em um dado momento, minha perspectiva da escrita foi repassar idéias e assim foi até muito tempo, levando a escrita na boca: a conversa se tornou para mim um folheto explicativo, um livro de auto-ajuda ou até a tal linguagem denotativa, finalmente, só que misturada. Extraía de tudo que eu lia o melhor que podia - e que não podia. ...Constantemente reflito se o fato de querer ajudar é arrogância. É impossível alguém saber mais que outro? Pois é impossível alguém querer ajudar? Eu não sei, só sei que se escrever e ajudar são a mesma coisa na minha perspectiva, então é o que sempre farei, pois me dá vida e acredito que todos precisam fazer o mesmo.
É a única coisa que dou a dica, o resto é implícito e não a jato. Tudo a jato é considerado chatissimo. Tipo agora. Estou chatissima.
A escrita não só é dada como repassar idéias, mas ser subjetivo e expressar sentimentos, portanto não ignoro a poesia, em sí. Adoro-as. As como. Por isso, exatamente assim, continuo com a minha história sem fim com tudo isso, valorizando todas as formas de escrita e de exteriorização da alma.
Pois o que há de ser o humano, se passar a vida, sem expressar-se? Quero entender tudo e todos: e nessa árdua continuação de mim, já pensei em psicologia, serviço social, filosofia, artes e letras. Acabo enfim filosofando sobre o direito da escrita e da arte como veículo, fazendo meu serviço social.
Afinal, todo mundo sabe que facul de psicologia é a maior putaria mesmo.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
entre passos me sorria
"- saieuer.." - Me bastava já, mas não estava estressada, mesmo sem uma música penetrando meus ouvidos, é como se me desconectasse do mundo prático para me conectar ao mundo subjetivo, a fim de entender e ver além das circunstâncias, sem deixar de perceber sua existência. (Funciona na vida prática).
A questão é que foi perto demais, e já estava escutando demais antes e isto foi baixo demais, não de baixeza. Já havia agradecido um simpático velho de uma barraquinha de doces e também comprei uma daquelas pequenas roupas íntimas de frufru (ou 3 por um preço econômico). Tudo estava mais engraçado, por que não tornar mais ainda?
- Passou um flash em que eu desenhava em um papel, no balcão de uma livraria que deveria ser barata mas não era e que eu devia comprar um livro do Rubem que eu já li, mas não comprei. O carinha de barbicha foi pesquisar o preço, afinal, em um computador. Logo abri um diálogo sobre o tal - computador - algo como eles nos enganarem, eles não serem eficientes, minha memória se distrai e não consigo lembrar a palavra certa, mas tive impressão que havia sido um diálogo de comédia-romântica quando ele sorriu, e depois, e os olhos. Algumas piadas, outros livros, ele só lia Gabriel Garcia Marques - Por que não lê Rubem Fonseca? - e coincidentemente ele ia ler aquele dia, ou estava pensando em ler. A correria do trabalho, ao menos havia uma intenção e é isto que vale, sempre foi.
- Vocês que trabalham aqui podem aproveitar pra ler nos intervalos, isso deve ser bom! - " É, podemos até, quando não há muito movimento também dá para pegar um..",
- "A menos que uma garota fique falando banalidades e tenha que dar atenção" " Ele ri, nega e aquela coisa toda. Nada foi charme, só queria mais uma risada. Risadas tiradas são tesouros guardados. Mesmo que as tímidas, mas não as plácidas, outras piadas e momentos ficam por conta da memória, pois neste momento o flash passou -
- O quê?
- saicmg. - Ele estava saindo consigo mesmo, constrangido já, devia pensar por que diabo eu retruquei...
- Ah sim, não entendi o que você falou, mas deve ter sido mais um daqueles caras que falam coisas quando as mulheres passam, certo?
Mais um tesouro computado. E daí começa-se o que não se começa e o que o fim não existe, portanto. E muitas palavras ressoadas depois, encontram-se uma curiosidade do meu nome, algo estranho, como o que estava fazendo ali, (que também era perguntar demais).
- Está perguntando demais. - Vá lá comprar sua guitarra, não vou comprar um café pra tomarmos e ninguém vai trepar, a barba é impressionante, e os olhos são de chocolate, se tivesse mais de 32 não acreditava em porra nenhuma, mas tinha menos, porém mais que 28. E isso tudo ficou só no pensamento sepultado. E se gostar da França é ponto, não ligo para o desencontro. Até certo ponto a média de ficar adivinhando coisas e nomes permaneceu imune.
"- Então você poderia morar ali, seria genial.", "-Você acha que eu estou comendo muito açaí? É todo dia."
- É algo realmente infantil fazer essas coisas; você é retardado.; Homens interessantes costumam ter barbas./; Você que é engraçado.
Isso tá ficando ridículo, vamos embora. -
O cara que tocava lá no pátio da vila lobos passou com seus instrumentos, seus amigos, um deles que tocava flauta - que gosto muito, mas que tanto havia escutado que meus ouvidos já queriam matá-lo - e o cabelo absurdamente comprido do metaleiro que virou tocador de cavaquinho.
E mesmo assim, ninguém acha estranho dois estranhos não se estranharem? -
Isso é realmente algo estranho hoje em dia, não é? Tirando em boates né, mas eu digo, sem necessariamente um homem alto ou baixo te agarrar ou algo acontecer por pressão local, pressão do álcool, sei la o quê acontece, só sei que acontece, e lá não é estranho, mas na rua sim, é estranho (raro e improvável).
A simpatia na rua é estranha. Apresentar a simpatia para as pessoas é um ato muito interessante, é como mostrar lugares novos no mesmo lugar - constando que todo local fica mais agradável assim. Tirando o fato de que a Cinelândia mesmo com toda sua simpatia, tem as escadarias gigantes até o banheiro que a luz pisca.
Mas vamos à simpatia: Digo uma que não seja ordinária, acrescento. Se não, só as mulheres terão um local interessante (e ao mesmo tempo vida sentimental vazia). A questão que exploro é você poder tornar o dia de alguém melhor, e quanto mais tornar, mais ganhar seu dia.
Depende muito, a vida é dura, quero ver quem trabalha, quem tem tempo para parar e ver o teatro do boneco tocando bateria no centro?
Quem tem tempo para pensar em não pensar? Quem não tem tempo para não ter tempo?
Precisa-se ser agradável com os íntimos, com os familiares, com os cachorros que te lambem principalmente. Mas não é bem por aí, não é por aí que tudo tem mesmo ido bem. É preciso prezar uma harmonia que acaba se tornando interna pra qualquer um. Por algum motivo, prefiro essencialmente fazer isso com as pessoas sozinhas que "não tem tempo" e ao mesmo tempo, terão mais um minuto para sorrir assim bobamente e fazer uma lembrança afagar os dias. Prefiro isto à quem, torneado dentro de um corredor, fala e fala, mesmo que sendo algo com teor interessante - do qual não tenho certeza, o interessante anda tão relativo, então digo: ou não - é algo como ter faro pra pessoas que comem muito açaí, pessoas que gostam de crônicas, que possam amar Fight Club, amam Mario Quintana (é querer demais, também, achar um que adore meu querido Bandeira integralmente) e que possam mudar o mundo. Que possam fazer diferença, e é interessante impulsionar, afinal. Mas tudo, tudo, é tão implícito...
Hoje ouvi dizer que um carinha em um certo programa da ESPN disse que entre as linhas não têm nada: que essa coisa de entrelinhas é babaquice. Ri tristemente ao ter que dizer que Clarisse dizia-se já esmagada por elas. Se fosse como o primeiro diz, quem seria Clarisse e quem seria todos os que consagraram e expandiram o que o interior é capaz, e não o que a rapidez "versátil" com máquinas é capaz....Isto é como um mergulho na vida para solucioná-la, e existem tantas formas do mesmo a se explorar...
Também ouvi sobre algumas pessoas hoje em dia que são bons frutos: boas cabeças que não tem deixa em um mercado maçante que se encontra o mundo de hoje, que cresce tão rápido e tão paradoxalmente, afinal, creio. São essas que devem fazer a diferença, e "não escolhemos nascer, mas escolhemos fazer a nossa diferença, plantando nossa semente". (revolucionaria)
Ainda escutar de professores essas coisas hoje em dia, é algo já difícil, ainda mais ver seu efeito. Mas acredito que todos nós temos o dom de sermos professores e alunos. E fazermos nossa diferença, e nunca é chato repetir que nenhum bom ato é pequeno, nem hoje, nem amanhã.
-Deixa eu te fazer a pergunta, cara.
E o amor?
" Talvez o tenha sentido em alguns momentos da minha vida, breves, talvez minutos. Já sofri por alguém e tal, mas.. "
-Sofrer é por vaidade, insegurança, não é amor.
Olha nos meus olhos atentamente.
"- É verdade, por isto, senti algo em alguns minutos..."
- Acredita-se, que amor é para sempre.
Mais um riso escuta-se.
" Como a igreja batista ali... já entendemos que isso não existe e ..."
- Então, amor é uma lenda, pra você?
Ri.
"- Algo Infantil"
- Infantil, como dizer coisas para mulheres no meio da rua.
Mais risos.
- Ainda vai saber o que é amor, ou não, mas um dia sentirá, amor de qualquer forma.
"- Precisará ser muito boa para isso, estou cansado, não trago nem celular, não quero ninguém me ligando, de todas e não dou o rabo, não está no contrato"
(Rio, penso em celulares que não trago. )
- Comigo é algo assim. O saco fica cheio, mesmo sem ter um... Mas creia, quando acontecer, você entenderá.
(A memória não redige todas as palavras, ela redige apenas a dita bela crônica da lembrança)
É justo que se interfira nas conversas, na música, na sociedade, sempre para o bem da nação, mesmo que ainda não entenda por que tudo precisa ser tão perfeitamente em harmonia,e a simpatia faça diferença, mesmo quando seu dia não está como gostaria. Mas ainda não aconteceu e já disse mil vezes que quando acontecer a tal coisa, eles hão de entender. E 500 entenderam (ou, superficialmente?), e eu fico com a parte que consta do cardápio: criar arte nas pessoas, não romance.
O dia está exatamente como estará seu estado, precisa-se regar-se constantemente e ao mundo, também, e só de fazer a si mesmo, já o está ajudando. Uma das nossas habilidades constadas turísticas, deve-se ser prezada, não por ser turística, e sim por que este calor brasileiro e simpatia deve vir sempre do nosso humanismo.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Bipolarizando
"Minhas desequilibradas palavras são o luxo do meu silêncio."
"Inútil querer me classificar,eu simplesmente escapulo não deixando. Gênero não me pega mais."
(Clarice Lispector)
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Mesa redonda
Não salvo o poema, salvo a vida transbordando em palavras, procurando essência sem tema.
Com tal introdução, não poderia avaliar pequenezas.
O evasivo, mesmo distinto, à mim continua restrito, como todas as drogas que me conflagram humana.
Revejo a lembrança como nossa magia, nossa um dia insensatez. Aquela que reproduzimos como vida, nosso marlboro, nosso seguro porto, não dito nem exposto.
Escrevo assim como quem bebe, vive ou sonha e tampouco sonha ou vive.
Mas contemporizar nesse mundo afinal é viver... Mesmo que assim: diferente de quem vive, tornando-se ressonância, redundância. Puta tarja preta e insolação.
Afinal, em meu azulejo interno, só poderia salvar como sempre o fiz, o subjetivo, sem a rima,
sem aviso.
Como vida; paradoxal.
Estado atmosférico
Consternado pelo sol que não lhe abriram,
Sem conflito, sem tempo.
O tormento inexpressivo, desolado, impreciso.
Quando haverá em si uma dor que acalmasse pura alma,
Conflagrasse o resto em cinzas para enfim embrenhar a vida em papel branco,
Contra o vento, como espelho,
em indolência restaurada sem mácula,
desejo de quem precisa fechar os olhos.
Desolado o próprio impreciso haverá de repetir as mesmas indagações,
Em pausa, em delírio, em dispersão.
- O que será desta, um encontro consigo:
Suportar o grito diletante e despir-se das emoções;
Consternado enfim,
Consumido pela resistência.
(Desesperança que emana novamente ao sorriso,
corta a epiderme em respiração,
Confundindo o mundo,
Desesperada razão, corolário de quem faz o mundo girar e prossegue;
Em resistência. )